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Combate à corrupção na Lava Jato não considerou realidade brasileira, diz advogado

Política

Combate à corrupção na Lava Jato não considerou realidade brasileira, diz advogado

Em entrevista à Rádio Metrópole, Walfrido Warde falou sobre a perda de credibilidade da operação e defendeu fim do "lavajatismo"

Combate à corrupção na Lava Jato não considerou realidade brasileira, diz advogado

Foto: Metropress

Por: Juliana Rodrigues no dia 15 de abril de 2021 às 09:21

O advogado Walfrido Warde avaliou os desdobramentos da Operação Lava Jato e a continuidade do lavajatismo, em entrevista a Mário Kertész, na Rádio Metrópole, hoje (14). Autor do livro "O Espetáculo da Corrupção", publicado em 2018, Warde explicou que a Lava Jato é fruto da importação de um modelo norte-americano de combate à corrupção, que não foi corretamente adaptado à realidade brasileira.

"A maneira como nós vínhamos combatendo a corrupção no contexto da Lava Jato desde o fim de 2014 era inconsequente, ou seja, produzia efeitos colaterais adversos para a economia, por não distinguir empresa de empresário, para a política, para demonizar todos os políticos de maneira indistinta, e no seio da sociedade, ao polarizar irmãos e irmãs, brasileiros e brasileiras. A Lava Jato trouxe pro Brasil um modelo de combate à corrupção importado dos EUA, produzido lá nos anos 70, e que quando se encontra com uma política frouxamente regulada como a nossa, ou seja, com o financiamento de campanha, que à época era empresarial e público, passa a criminalizar tudo. Ou seja, tudo é crime. (...) Quando você traz esse modelo pro Brasil sem fazer um ajuste na legislação, sem explicar como as coisas funcionam, sem legalizar o caixa 2, sem racionalizar a política brasileira, tudo vira crime. Todas as interações público-privadas se criminalizam", afirmou.

Segundo Warde, no contexto dos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, a Lava Jato serviu aos interesses das elites brasileiras, além de beneficiar os Estados Unidos ao prejudicar as empresas nacionais. "Sempre houve um mau humor das elites brasileiras em relação aos governos de esquerda. As elites nunca aceitaram por vários motivos, dentre eles um mau humor, uma falta de boa vontade com a redistribuição de renda. (...) A isso tudo se soma também uma raiva que a população tem da corrupção, e é natural que tenha. (...) A gente tinha uma economia que crescia, uma afirmação de política externa brasileira para a América Latina, para as Américas e para além das Américas. Os governos do PT criaram uma política internacional descolonizada, e as chamadas empreiteiras tinham um papel muito importante nesse modelo de desenvolvimento nacional. (...) As pessoas não devem se esquecer que os países concorrem", explicou.

Warde ainda considera que a Lava Jato perdeu apoio do povo brasileiro, mas o "lavajatismo" ainda está presente nas políticas de combate à corrupção e deve ser combatido. "A minha crítica é uma crítica do modelo, da maneira como combatemos a corrupção. Não funciona combater corrupção de maneira punitiva. Precisamos destruir os incentivos à corrupção. (...) Enquanto a gente não tratar do lobby pré e pós eleitoral, do financiamento das campanhas e dos partidos de maneira racional, aberta e sincera, vamos continuar tendo corrupção no Brasil", disse.

Veja a entrevista completa: