
Política
Paulo Markun avalia aspiração autoritária do governo Bolsonaro: 'Nem a ditadura era desse jeito'
Jornalista comenta fracasso de uma geração progressista e falta de líderes no país

Foto: Metropress
O jornalista e escritor Paulo Markun comentou a falta de lideranças políticas e a perda de identidade dos representantes da Câmara e do Senado junto à população. Em entrevista à Rádio Metrópole hoje (10), ele falou do período que viveu na ditadura militar, nos anos 60 e afirma que sente que sua geração teve "absoluto fracasso".
"Tenho 67 anos, participei do movimento estudantil em 1968, quando tinha 16 anos e ia para as ruas contra a ditadura. Estive preso no DOI-CODI por militância comunista na época. Acompanhei o processo de abertura política e a Constituinte, dr. Ulysses e Tancredo Neves. Os sonhos todos de uma constituinte que desenhou uma carta muito distante e muito mais progressista do que era a realidade sociedade brasileira. Era uma carta que estabelecia determinados sonhos e projetos que não se consumaram na vida cotidiana", apontou Markun.
"Um exemplo claro é o SUS. É um avanço positivo muito importante, uma decisão dos sanitaristas e está fazendo 30 anos. Tem graves problemas de recursos. A Saúde deveria ter 15% do orçamento por imposição e foi mudado no governo Temer. Perdeu-se mais de 20 bilhões de reais por ano", acrescentou.
Ele falou sobre as aspirações autoritárias do governo Bolsonaro e avaliou que, mesmo com toda repressão, o governo militar tinha resquícios de democracia. "Qual é o objetivo que busca tirar o Brasil do campo democrático? Nem a ditadura era desse jeito. Nossa ditadura tinha lá suas peculiaridades e abriu algumas brechas para manutenção de certas regras políticas. Foi por aí, muito mais do que pelo confronto armado, que foi derrotado. A luta armada de esquerda foi fragorosamente derrotada e deixou vítimas, não deixou vencedores, embora muitos queiram desenhar de forma diferente", conta.
"Foi no jogo político, no MDB, nas eleições parlamentares, na tribuna e a liberdade de imprensa que foi duramente conquistada e, a partir daí, se praticou um jornalismo mais firme e duro naquele momento em que jornalistas e patrões tinham o mesmo ponto de vista", comentou.
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