
Política
'Fim da escravidão não foi o fim da hierarquia racial', diz Silvio Humberto
Vereador questiona falta de empatia do povo branco em relação ao racismo: "Não meter o dedo nas coisas é significante"

Foto: Metropress
Vereador de Salvador, economista, professor da UEFS, Servidor Público do Município e presidente de Honra do Instituto Cultural Steve Biko, Silvio Humberto (PSB) comentou a questão do racismo em meio aos protestos contra a violência policial em todo o mundo, com origem no caso de George Floyd, nos Estados Unidos. Em entrevista a Mário Kertész hoje (16), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ele afirmou que os problemas raciais no Brasil não tiveram fim com a abolição da escravidão, o que ficou evidente com a pandemia de coronavírus.
"Eu faço uma reflexão nessa nossa cidade, que tem essa beleza natural que estamos, a Meca Negra e uma série de adjetivos e qualitativos. O que a gente percebe é que Salvador é a cidade de todos os pobres. Foi trancar as ruas e você observa a cor das filas da Caixa Econômica. As voltas que aquilo deu na Praça da Revolução, é uma fila que vem de outra fila, que é o 14 de maio que nunca chegou ao seu final. O fim da escravidão não foi o fim das hierarquias raciais, consequentemente o fim das hierarquias sociais", declarou o vereador, que comentou as medidas contra a propagação da pandemia de Covid-19.
"Como você vai falar de distanciamento social, falando de pandemia, que é uma exceção na curva, quando o que temos aqui é uma endemia social chamava pobreza? Nós sabemos as causas, sabemos quem ela atinge e sabemos, ainda mais, que tem cura. A pergunta é: por que que não se cura essa endemia social chamada pobreza? Quando chega a Covid, não fomos nós que trouxemos essa doença que chegou de avião, diferente da gripe espanhola que chega por um paquete Demerara e chega no porto, dura três meses e fez estrago, e a primeira morte foi de uma empregada doméstica", comenta.
Sílvio Humberto cobrou uma união maior da sociedade para o enfrentamento do racismo. Ainda de acordo com o edil, é necessário configurar um novo pacto entre as classes. "A empatia não surge do nada. Na empatia, você precisa se ver no outro. A gente usa empatia para dizer que se os brancos dessa cidade não quebrarem o pacto narcísico e não disserem que não tem culpa, a inação também é culpa. Não meter o dedo nas coisas é significante", afirma o político.
Ao final da entrevista, Mário Kertész convidou Sílvio Humberto para ser comentarista da Metrópole. O pedido foi aceito de imediato. Para o vereador, é necessário estender o debate e permanecer questionando e fomentando as ações efetivas contra o racismo. "Eu vejo as possibilidades que temos fazendo isso aqui, mas a gente precisa ir para as ações práticas e recursos. O que nós vivenciamos hoje tem a ver com os nossos avanços. O conjunto da sociedade entende que esse país não irá a lugar algum, vai continuar deitado em berço esplêndido, enquanto a população negra e a população indígena não forem devidamente incluídos. Do ponto de vista racional, a gente precisa questionar essa racionalidade do racismo. O racismo tem uma racionalidade econômica que deixa essa massa do lado de fora", comentou.
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