Vote na disputa pelo Prêmio PEBA para piores empresas da Bahia>>

Quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp

Home

/

Notícias

/

Rádio Metropole

/

Jornalista e escritora avalia “plano de poder” usando população evangélica: "Não tem nada de inédito"

Rádio Metropole

Jornalista e escritora avalia “plano de poder” usando população evangélica: "Não tem nada de inédito"

Autora do livro "O Púlpito: Fé, Poder e o Brasil dos Evangélicos", a jornalista e pesquisadora Anna Virginia Balloussier foi entrevistada na Rádio Metropole nesta terça-feira (9)

Jornalista e escritora avalia “plano de poder” usando população evangélica: "Não tem nada de inédito"

Foto: Reprodução/TV Folha de S. Paulo

Por: Metro1 no dia 09 de abril de 2024 às 13:14

Atualizado: no dia 09 de abril de 2024 às 22:14

A população evangélica no Brasil saltou de 2,6% em 1940 para 26% em 2022, segundo pesquisa do Datafolha. O resultado disso é uma expressiva bancada no Congresso Nacional e estratégias políticas de se aproximar desse público. Pesquisadora e autora do livro "O Púlpito: Fé, Poder e o Brasil dos Evangélicos", a jornalista Anna Virginia Balloussier levou à Rádio Metropole, nesta terça-feira (9), um pouco do seu mergulho na ascensão dos evangélicos no Brasil. De acordo com ela, declarações como a feita pela ex-primeira dama Michele Bolsonaro, que no nício do ano afirmou que os evangélicos precisavam ocupar espaços na política para combater o mal, já têm histórico no pais.

Historicamente, a Igreja Católica esteve presente nas instituições de poder brasileiras, mas tem perdido espaço. Em 1950, quase 94% da população brasileira se dizia católica, percentual que caiu a 65% no Censo demográfico de 2010 e está em 49% entre os entrevistados do Datafolha há dois anos. Como explicação para o crescimento dos evangélicos em detrimento dos católicos, Anna Virginia cita três pontos principais de observação: mudança do desejo do povo pelo ‘agora’; dificuldades da igreja em formar padres e na comunicação.

“Os anos 90 vêm de uma década do neoliberalismo com uma força muito potente e isso começou a casar com as aspirações das chamadas igrejas neopentecostais. Aquele papo de que o crente tem que ser uma figura que tem que poupar porque ‘Deus vai me garantir uma vida boa quando eu morrer’ parou, as pessoas querem a prosperidade aqui e agora [...] A igreja católica começou com uma dificuldade muito grande de formar padres, que demora anos e anos para formar um seminário com uma burocracia muito rígida do Vaticano e como se cria uma igreja evangélica? Você coloca umas cadeiras numa garagem numa periferia e tem um pastor pregando. Fora isso, até 1960, os padres ainda rezavam de costas em latim”, disse.

Sobre a capacidade de adaptação das igrejas neopentecostais enquanto as católicas estão “paradas no tempo”, a pesquisadora comparou as instituições com meios de transporte aquáticos. “É como se fosse um transatlântico, qualquer movimento para virar é muito lento, difícil, estudado e determinado pelo Vaticano. A igreja evangélica pode mais ser comparada com um jet ski, ela navega muito mais rápido, se adapta aos tempos, os cultos muito dinâmicos e respondem todos os anseios da população”, comentou.

Para Anna Virgínia, o crescimento latente dos evangélicos na política brasileira veio de um movimento longo e os discursos disseminados atualmente foram vistos desde 1989, na primeira eleição depois da Ditadura Militar. Como comparativo, a jornalista citou a fala de Michele Bolsonaro em ato realizado na Avenida Paulista neste ano, onde ela diz que chegou a época em que os evangélicos devem “dominar a política para que o mal não prevaleça”. 

“A gente precisa de vários anos para que uma coisa aconteça da noite para o dia [...] Não tem nada de inédito, é quase um replay, se a gente lembrar de 1989, a primeira eleição pós ditadura, tinha o mesmíssimo discurso, a primeira bancada evangélica se formou na constituinte e até então você até tinha um ou outro evangélico eleito. O próprio Ulysses Guimarães citou a bancada como uma das novidades mais importantes. Até ali tinha um lema sobre crente não se meter em política, até que começou um novo lema a prevalecer: irmão vota em irmão. Os evangélicos se organizaram para ocupar esse espaço com o mesmo discurso que Michelle reproduz em 2024”.

Anna lembra ainda que na formação da Carta Magna, duas subcomissões importantes foram presididas por evangélicos: telecomunicações e família, evidenciando o planejamento da disseminação dos ideais evangélicos no meio político. 

“Já havia uma diretriz muito forte sobre esse plano de poder. É difícil falar em movimento evangélico como se fosse algo único, você não tem nada próximo de um papa para direcionar, é um movimento muito plural. Hoje converge mais para o bolsonarismo, mas no passado não era nada óbvio”, ressaltou.

Confira a entrevista na íntegra: