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Anvisa interdita implantes hormonais e “farra dos chips” vem à tona

Saúde

Anvisa interdita implantes hormonais e “farra dos chips” vem à tona

Especialista afirma que pacientes chegaram a ser internados após o uso dos chips hormonais manipulados irregularmente

Anvisa interdita implantes hormonais e “farra dos chips” vem à tona

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Por: Ismael Encarnação no dia 24 de outubro de 2025 às 08:36

Atualizado: no dia 24 de outubro de 2025 às 09:09

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou nesta quinta-feira (23) a suspensão imediata da fabricação, venda e uso de todas as preparações estéreis da Elmeco Serviços Farmacêuticos e Treinamento Profissional Ltda. A medida foi tomada após a constatação de manipulação irregular e adulteração generalizada nos produtos. Segundo o órgão, as falhas nas boas práticas farmacêuticas representam um risco elevado de contaminação cruzada e microbiana, colocando em perigo a saúde dos consumidores. A proibição inclui soluções injetáveis, medicamentos oftálmicos e inaladores que exigem condições assépticas rigorosas para garantir segurança ao paciente.

Hormônios sem comprovação de eficácia e risco de contaminação

A Anvisa também suspendeu o hormônio Nesterone e os Implantes de Testosterona fabricados pela Elmeco. O Nesterone, utilizado para inibir a menstruação e seus efeitos colaterais, não possui eficácia nem segurança comprovadas. Já os implantes de testosterona foram interditados por apresentarem falhas no processo de esterilização e ausência de estudos que validassem a limpeza dos frascos e batoques, o que aumenta o risco de infecção por endotoxinas bacterianas. Além disso, muitos desses produtos são manipulados de forma clandestina, sem registro sanitário e sem controle sobre os ingredientes utilizados.

Casos de infecção e denúncia médica

O hepatologista Raymundo Paraná alertou que, além da falta de estudos clínicos de fase 3 e dos riscos cumulativos dos anabolizantes, há também o perigo de infecção decorrente do processo de manipulação. Segundo o médico, a situação é ainda mais grave porque muitos desses chips contêm, além de testosterona e gestrinona, substâncias jamais testadas para uso clínico rotineiro, como sildenafila, ocitocina, semaglutida e tizepatida — drogas patenteadas que não podem ser manipuladas legalmente.

Substâncias perigosas e promessas falsas

De acordo com o especialista, essas substâncias são inseridas com a falsa promessa de melhorar a performance física e o bem-estar emocional. “A ocitocina, por exemplo, é vendida como o ‘hormônio do amor’, com a ideia de tornar as pessoas mais tolerantes e afetivas. Isso é um engodo perigoso, nunca testado dessa forma”, explicou. Paraná também criticou a prática de manipular medicamentos complexos em pequenas farmácias, sem infraestrutura adequada para garantir esterilidade e segurança. Ele classificou a situação como um “absurdo que só ocorre no Brasil”, ressaltando que em países como Japão, Estados Unidos e nações europeias esses implantes sequer são conhecidos, exceto em casos comprovados de hipogonadismo.

Prescrições sem qualificação e riscos graves à saúde

O médico ainda denunciou que muitos dos profissionais que prescrevem esses hormônios não possuem RQE (Registro de Qualificação de Especialista), o que significa que não têm formação específica em endocrinologia. Ele relatou casos de cirurgiões, oftalmologistas e ortopedistas prescrevendo hormônios, o que, segundo ele, revela a gravidade do problema. “Manipular e prescrever hormônios é uma enorme responsabilidade, porque hormônio não é sinônimo de saúde. Ele só é necessário quando está em falta; em excesso, vira doença”, afirmou.

“Um doping disfarçado de reposição”

Paraná alertou que o uso indevido dessas substâncias é uma forma de doping disfarçado, que causa ganhos estéticos imediatos, mas compromete a saúde com o tempo, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, hepáticas, renais e até de AVC. O especialista reforçou que o uso indiscriminado desses implantes hormonais é um fenômeno tipicamente brasileiro e que precisa de controle urgente. “Quem prescreve não conta ao paciente os riscos que está assumindo. Hormônio em excesso rouba a saúde do corpo”, concluiu.