
Saúde
OMS classifica herbicidas como cancerígenos para humanos
OMS acende alerta sobre agrotóxicos amplamente usados no Brasil e pressiona por revisão das regras

Foto: Divulgação/Cenipa
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou novas avaliações que classificam dois herbicidas muito utilizados no Brasil, a atrazina e o alachlor, como substâncias cancerígenas para humanos. A decisão, publicada no The Lancet Oncology, baseia-se em evidências consistentes de câncer em animais, mecanismos biológicos que favorecem o desenvolvimento de tumores e estudos que apontam associação com linfoma não Hodgkin e câncer de laringe.
A atrazina, especialmente presente em lavouras de milho, sorgo e cana-de-açúcar, foi ligada ao aumento do risco de linfoma não Hodgkin com alterações cromossômicas. Já o alachlor apresentou relação direta entre dose e incidência de câncer de laringe em um amplo estudo com aplicadores de pesticidas. Segundo a IARC, trabalhadores da agricultura e de fábricas são os mais expostos, sobretudo por inalação e contato direto com os produtos, mas a população em geral também pode ser afetada por água potável e alimentos contaminados.
Especialistas afirmam que a atualização pressiona países importadores de pesticidas, como o Brasil, a revisar limites de resíduos e regras de uso. Entre os dez agrotóxicos mais utilizados no território brasileiro, sete são proibidos na União Europeia, incluindo atrazina e alachlor. De acordo com a pesquisadora Larissa Bombardi, coordenadora científica do International Pesticide Standard Alliance (IPSA), essa discrepância pode dificultar o avanço do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, previsto pelo governo para dezembro.
A pesquisadora também alerta para a rápida expansão do uso da atrazina no Norte do país, que cresceu mais de 500% em uma década, representando ameaça à biodiversidade amazônica devido à facilidade de dispersão do produto na água. Estudos ainda relacionam a substância a infertilidade animal e a problemas como câncer de tireoide, ovário, mal de Parkinson e má-formação fetal.
Para o oncologista Daniel Musse, membro de sociedades de oncologia no Brasil, EUA e Europa, a classificação da IARC deve servir como alerta para proteção de trabalhadores rurais e revisão das políticas públicas: “Quando a IARC coloca uma substância no Grupo 2A, ela indica evidências sólidas e sinais preocupantes em humanos”, afirma.
O relatório completo da IARC será publicado em 2026, no Volume 140 das Monografias da agência, com análises laboratoriais detalhadas e estudos epidemiológicos sobre os riscos associados aos dois herbicidas.
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