Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Domingo, 16 de junho de 2024

Home

/

Artigos

/

O que precisamos é de seriedade na imprensa

O que precisamos é de seriedade na imprensa

Cada jornalista é um privilegiado nesse país pela possibilidade de escrever e se comunicar com a multidão. Se os jornais estão atingindo cada vez um público menor, o problema é deles, é dos jornalistas

O que precisamos é de seriedade na imprensa

Foto: Reprodução

Por: metro1 no dia 23 de maio de 2024 às 00:00

Vamos falar um pouco da visão que está sendo difundida, por exemplo, no que diz respeito a essa providência muito promissora que o presidente Lula tomou de nomear uma pessoa para ser o representante de seu governo no Rio Grande do Sul neste momento, atendendo as reivindicações, as aflições que podem ser atenuadas pelo governo federal.

Curiosamente, ele escolheu Paulo Pimenta, secretário de Comunicação do governo, deputado federal por vários mandatos pelo PT, gaúcho. Pareceu então uma escolha bastante procedente, embora eu não tenha a menor ideia sobre a habilitação do Paulo Pimenta para essa função. Imagino que o presidente tenha percepções que justifiquem essa escolha. Mas imediatamente os jornalistas que tiveram e têm tido a oportunidade de opinar nos seus veículos caíram de pau nessa decisão. Diziam que Lula, com isso, politizou a tragédia gaúcha.

Politizou como? Agora, bobeou, aparece essa história de politizou. “O Supremo Tribunal Federal está politizando não sei o quê”. “O Superior Tribunal de Justiça está politizando não sei o quê”. Que história é essa de estar politizando? Só porque nomeou uma pessoa que é tradicionalmente conhecida como deputada federal no estado? Há algum indício que contraindique essa escolha? Ou seria necessário escolher um general Eduardo Pazuello, por exemplo, para ficarem tranquilos, conformados e satisfeitos? Essa irresponsabilidade da imprensa brasileira atrasa muito esse país. Em vez de irem levantar as habilitações do Paulo Pimenta, se querem esmiuçar esse aspecto, vêm com essa bobagem de politizou. Isso é um besteirol sem tamanho.

É só parar para pensar um pouco mais no que vai dizer. Afinal de contas, cada jornalista é um privilegiado nesse país pela possibilidade de escrever e se comunicar com a multidão. Se os jornais estão atingindo cada vez um público menor, o problema é deles, o problema é dos jornalistas. O problema não é do público, não é de politização ou judicialização. É falta de pensar no que está fazendo, é falta de criar jornais, revistas, meios de comunicação à altura do interesse público. É por isso que o jornal está vendendo tão pouco. É por isso que os noticiários de televisão e rádio são ouvidos cada vez menos. Então, vamos começar a mudar já a partir dessa tragédia do Rio Grande de Sul, que está precisando de seriedade de todos os lados.

Forçar também é mentir

Politicamente os jornalistas deveriam ter um comportamento mais responsável. Se eles forçam a mão contra os fatos, contra as evidências, eles estão fazendo fake news - de uma forma diferente dessa que explora a internet, mas ainda é mentira. Ninguém está muito interessado nisso, em saber, afinal de contas, como é que deve se comportar se é jornalista. Então, não há muita perspectiva positiva do ponto de vista do profissional de imprensa. Esse está precisando de uma menor reforma de conduta.

Não precisa gostar do governo. Pode detestar Lula como pessoa, como ideia, como programa de vida, de governo. Agora, se vai fazer vídeo, baseie-se em fatos, cite os fatos com respeito, sem adulterar, sem inventar interpretações fatiadas, bobas, de uma superficialidade aviosa.

Esse problema tende a perdurar, porque não é coisa que se mude de um dia para o outro, e para mudar, é preciso que se tome algumas providências que não são tomadas a respeito de coisas tão simples quanto, por exemplo, uma legenda de uma fotografia. Há anos isso se repete: você pega um jornal, vai olhar o que diz uma legenda, e na internet é a mesma coisa, ela simplesmente descreve o que você está vendo. Você é considerado uma besta como leitor, incapaz de perceber o que uma fotografia está mostrando. Legendas hoje exprimem o que é a qualidade do jornalismo que se está fazendo no Brasil.

Esse cenário não muda porque os de cima não tomam as providências para corrigir isso. Não tomam as providências pelo menos por dois motivos: alternadamente, se for o caso, ou os dois conjuntamente. O primeiro é porque eles mesmo não estão prestando atenção naquilo por cuja qualidade são responsáveis, seja boa ou má. E segundo, o que convém: quanto mais quieto, quanto menos você tentar mudar o que está errado, melhor a sua vida, o que significa que melhor está sendo o seu salário, a sua relação com os patrões. É um cenário realmente muito triste, muito inquietante, porque isso se reflete diretamente na formação da opinião pública. É um desrespeito a cada cidadão esse desleixo, esse desinteresse na prática do jornalismo, porque o cidadão paga para ter o serviço do jornalista, paga ao comprar o jornal, uma revista, paga para ler na internet, paga para ouvir rádio e ver televisão, e é tratado com um descaso absolutamente injustificado, desnecessário.

* A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras