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O Brasil é o Brasil

Pelo que se deduz, a jornalista Daniela Lima foi saída porque a emissora está ajustando a rota ideológica
Foto: Reprodução
Ah, o jornalismo de televisão ficou tão fofinho nos últimos anos… Eliminaram as bancadas, âncoras e comentaristas circulam muito à vontade por estúdios informais, apoiam seus iPads em mesinhas de vidro transparentes, ironizam falhas ao vivo. Todo mundo se chama por apelidos infantilizados no diminutivo. É Lane, Dani, Fê, Guedinho, Jel, Pam, Dedea, Van, Rê. São risos, gargalhadas, piadas. Até versinhos de alguma canção são entoados quando um escândalo político se presta a uma tematização musical segundo uma das estrelas das emissoras.
Tudo, supostamente, em nome da transparência, da aproximação com o telespectador, da naturalidade, essas farsas que se espalham por todos os segmentos. Vejamos a saúde. O plano de saúde que lhe cobra os olhos da cara e nega procedimentos que definem se as pessoas vão morrer ou viver anuncia hospitais onde se pratica, garantem, atendimento humanizado. E os que praticam medicina desumanizada, quais são? É tudo mais do mesmo. Marketing de estética que não se sustenta diante da primeira contradição.
Coleguinhas sem stories
O sumiço de Daniela Lima, âncora das manhãs da Globo News nos dias úteis, foi uma ilustração maravilhosa do faz de conta do jornalismo pós-modernizadinho. Ah, o leitor, vossa excelência, tem o direito de saber tudo. É mentira. Sempre foi. E continuará a ser. Demitida ao voltar de férias, na segunda-feira, e antes de apresentar o programa do dia, Daniela não mereceu sequer uma referência tola de qualquer coleguinha.
E essa referência nem seria uma frase carinhosa, no ao vivo fofo, na espontaneidade do estúdio, como nos fazem crer. E nas redes? Não somos todos espontâneos? Não somos. No juízo final, continua tudo igual, a mesma contabilidade das cifras, fiel à idade da pedra do jornalismo: ‘jornalista não é notícia’; ‘o jornalismo não cobre o jornalismo’. Só quando é perfumaria e fofoca.
Pelo que se deduz, Daniela foi saída porque a emissora está ajustando a rota ideológica. O assinante da Globo News, como toda a população, está ideologicamente polarizado e tem reclamado mais da diversidade política/eleitoral/ideológica. Daniela, nessa equação, era a mais frágil. Embora fidelíssima a furos e apurações, ela não tinha as costas quentes estreladas de algumas das colegas nem a impossibilidade de demissão que mantém outros, embora menos talentosos. E acreditou que podia ser espontânea além da conta. Nenhum coleguinha ter feito sequer um story é muito a cara do quanto somos hipócritas e farsescos quando defendemos a vida sem filtros. Na nossa savana, filtro é sobrevivência.
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