
A Fonte da Munganga e a munganga com o patrimônio
Somos um povo muito ignorante da própria história e eu aposto que você mesmo, que me lê agora, talvez já tenha passado pela Munganga sem saber o que ela significa

Foto: Reprodução
Na semana passada, passei pela Fonte da Munganga e tomei um susto. A situação calamitosa deste patrimônio público de grande importância para a memória, o estabelecimento e a vida mesma da primeira capital do Brasil está ainda pior que antes. Para quem não sabe, a Fonte da Munganga é, de fato, uma fonte de água natural que fica na Avenida Jequitaia, na altura da Feira de São Joaquim. Sua construção em pedra apresenta (ou apresentava) duas datas na fachada: 1746 (certamente de sua fundação) e 1800 (provavelmente de alguma reforma). Isto é, trata-se de um artefato do século 18, e mais — de equipamento tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) desde 1981. Qual o que? A pobre fonte, além de entupida, está coberta de mato, pichada, com uma bica ameaçando suas pedras seculares de desabamento, além da natural erosão do tempo. Resumindo: aquilo mesmo que a gente já sabe. Só que ao cubo.
Recentemente, a Seman (Secretaria de Manutenção) iniciou um projeto de revitaliazação das fontes da cidade. Na prática, muito pouco, pois o que se chama revitalização, nesse caso, é uma breve limpeza e instalação de grades e corrimões em aço inox. E muitas vezes essas grades servem apenas para trancar as mesmas fontes ao acesso público. Por outro lado, as fontes que não são trancadas passam a ser apropriadas imediatamente pelos chamados sacizeiros, o que inviabiliza a frequência de cidadãos comuns, famílias e turistas. Somos um povo muito ignorante da própria história e eu aposto que você mesmo, que me lê agora, talvez já tenha passado pela Munganga sem saber o que ela significa e nem sequer que aquele destroço é alguma coisa. Aliás, "munganga" = troça, palhaçada. Que é justamente o que fazemos com nosso patrimônio.
Mas aposto também que nossos gestores políticos e grandes empresários, quando viajam à Europa, acham lindo encher suas garrafinhas e copos Stanley nas fontes públicas de lá. Por que não miram-se no exemplo e cuidam das nossas, nem que seja para receber com dignidade os amigos gringos? Por que nem a Fonte Nova que empresta seu nome à milionária Arena explorada pela multimilionária Casa de Apostas recebe um mínimo de cuidado? Quanto custaria para a empresa? Um dia a fonte seca totalmente. E nossas únicas atrações serão os paredões e tiroteios para aventureiros deprimidos do primeiro mundo (ainda se usa essa expressão?) que gostam de passar perigo.
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