Artigos
A polarização do banquinho
Em uma cena, Daniela Mercury irritou-se e, no palco, atirou longe um banquinho. Na cena 2, o candidato José Luiz Datena perdeu a paciência com o Pablo Marçal, pegou uma cadeira e avançou contra o ex-coach
Foto: Reprodução
No mesmo final de semana, dois banquinhos foram objeto de notícia, bate-boca, textões e até cartas abertas. Os contextos eram totalmente diferentes. Mas, exatamente por isso, vê-se o que se tornaram a polarização política no Brasil e o espetáculo político-eleitoral, mesmo em seus espaços mais convencionais, como os debates na televisão. Em uma cena, a cantora Daniela Mercury, durante um show em uma mostra de arquitetura e decoração, irritou-se e, no palco, atirou longe um banquinho.
Na cena 2, o candidato José Luiz Datena perdeu a paciência com o adversário Pablo Marçal, durante o debate da TV Cultura. Pegou uma cadeira e avançou contra o ex-coach. Desde então, não se fala de outra coisa. Embora se anuncie como indomável, Marçal transformou a cadeirada em ambulância, internação e comparou-se a Jair Bolsonaro, esfaqueado na campanha, em 2018, e a Donald Trump, atingido por um tiro, este ano.
Embora todo mundo tenha chamado o móvel arremessado por Daniela de banquinho e o usado por Datena de cadeira, ambos são uma banqueta, assim anunciadas pelos fabricantes. A banqueta Maui, a do palco de Daniela, custa em torno de R$ 2,1 mil. A banqueta Milão, a do estúdio de TV, aparece na web custando até R$ 800. No primeiro caso, a polarização em torno da peça se deu pelo fato de Daniela ser uma das artistas mais posicionadas à esquerda e de a dona da marca ser assumidamente bolsonarista.
O tom usado pelas duas nas redes sociais foi marcado pela polarização, e os comentários eram puro suco de discursos de ódio. Esquerda e direita, lulismo e bolsonarismo, feminismo, machismo, racismo e branquitude. Teve de tudo. Daniela argumentou que se fosse, no palco, um homem o artista e tivesse pedido para retirar o banco, teria sido atendido. E mulheres empoderadas, donas da banca, não esperam. Já o gesto de Datena foi interpretado como machista, reprodução do que são homens brancos poderosos se chamados de covardes.
📲 Clique aqui para fazer parte do novo canal da Metropole no WhatsApp.