
Na Sessão da Tarde o título seria: “Uma Biblioteca do Barulho”
Há tantas demandas administrativas assim numa biblioteca? Funcionaria ali uma Bet disfarçada?

Foto: Reprodução
Era uma tarde tranquila, eu descia a Ladeira de São Bento e decidi entrar na Biblioteca Anísio Teixeira, reinaugurada ali em 2022, após um investimento de quase 9 milhões que deu nova vida aos dois edifícios históricos, até então caindo aos pedaços, que agora sediam o equipamento cultural. Fiquei muito contente ao ver tudo tinindo, estruturas novinhas, acessibilidade respeitada, sinalização clara, etc. Como não queria levar nada emprestado, me dirigi ao setor de leitura — também porque o mero prazer de ler, curtir umas páginas impressas, tem a ver com o patrono do local, o venerável criador das Escolas Parque. Naquela hora, a biblioteca estava vazia de leitores: três pessoas comigo. Os outros eram os funcionários. Peguei um livro de História da Bahia, sentei e, de repente, iniciou-se uma espécie de realismo fantástico.
O cara atrás de mim, usando um notebook (não um livro físico), passou a ler em voz alta para si mesmo. Com o susto, virei-me para ele que, ainda bem, calou a boca. Ao contrário dele, porém, uma vigilante não parava de falar com a (acredito) bibliotecária. O teor da conversa eu não entendi, mas era um pipipi-popopó incessante. Daí, vem um funcionário de camisa rosa que estava no térreo quando entrei (o setor de leitura fica no primeiro andar): segurando uma folha de papel, adentrou o recinto fazendo gracejos, tudo em alto e mau som. Se dirigiu a uma sala e voltou. Em seguida, outra funcionária se encaminhou à mesma sala, arrastando as sandálias de couro de um jeito que, das duas uma: ou ela ganha para encerar o piso, ou tem pelo menos oito pés. Um tempo depois, o mesmo cara de camisa rosa brotou no canto esquerdo da sala, numa espécie de reunião com uma moça. Uma funcionária da limpeza entrou e saiu da sala também falando. E tudo permaneceu assim até que desisti e fui embora. Soava tão natural que não me atrevi sequer a fazer o famoso "shhh" pedindo silêncio.
Eis o que eu me perguntava: o que eles tanto fazem para lá e para cá? Há tantas demandas administrativas assim numa biblioteca? Funcionaria ali uma Bet disfarçada? Lembrem, três leitores apenas. Além de mim e do cara do notebook, uma mulher. A bem da verdade, ela não emitiu um som. Fiquei curioso pra saber se levou advertência na saída.
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