
O Papa Francisco e a natureza divina
Há muito de estratégia política na escolha do Papa. Pois, com todo respeito à santa igreja, ninguém vai me convencer facilmente de que Deus sempre escolheu seus representantes na Europa

Foto: Reprodução
A morte do Papa Francisco, além das naturais comoções que espalhou pelo mundo inteiro, também traz a pergunta inevitável: quem o irá subtituir no comando da Igreja Católica? Vale lembrar que o argentino Jorge Bergoglio substituiu o alemão Joseph Ratzinger, Bento XVI, num momento histórico de renúncia papal, um dos únicos seis da história da instituição. Foi uma importante mudança de eixo, um Papa da América do Sul, o primeiro latino americano. E, mais ainda, o primeiro Papa não-europeu em 1.200 anos — o último havia sido o sírio Gregório III, que morreu no ano 741. Não apenas a situação geográfica, mas também a escolha do patrono, São Francisco de Assis, revelavam uma necessidade da igreja por renovar-se. Ou melhor, buscar em si linhas de atuação que a mantivessem relevante num momento de avanço de outras instituições e correntes religiosas e filosóficas. Resumindo: há muito de estratégia política na escolha do Papa. Pois, com todo respeito à santa igreja, ninguém vai me convencer facilmente de que Deus (que é brasileiro! não resisti à brincadeira, perdoem) sempre escolheu seus representantes na Europa. Especialmente na minúscula Itália.
São Francisco trouxe o apelo ecológico ao mundo cristão e ocidental. O irmão do sol, da chuva, do vento... O santo que abraçou a pobreza como um valor em si. Além disso, tinha postura também, de certa forma, pouco clerical, quase um hippie, um lírio do campo da famosa parábola. Foi, me parece, uma carta na manga da igreja naquele momento, 2013, quando o até então sisudo argentino foi escolhido e tornou-se o pontífice sorridente e cordial. Por sinal, Francisco foi o primeiro Papa a pronunciar a palavra gay publicamente. Mas, e agora? Como os cardeais interpretarão o contexto político e a vontade divina? Especula-se uma continuidade ao sul, com a escolha do brasileiro Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil. Será? Ou o vaticano entenderá que a situação é de retorno ao eixo tradicional? Aguardemos. E salve, Chico!
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