
Poze do Rodo, entre herói e bandido
A esquerda celebrou a saída de Poze do Rodo da prisão como um dia histórico contra o racismo, já a direita interpretou como uma vitória da apologia ao tráfico

Foto: Reprodução
Carla Zambelli fugiu do país, sambando na cara do Judiciário, que, duas semanas após a sua condenação, ainda não havia tomado nenhuma posição sobre seu impedimento de sair do Brasil e o confisco de seus passaportes, o brasileiro e o italiano. O trapper carioca Oruam, tão famoso na carreira quanto na condição de filho de um dos principais líderes do tráfico no Rio de Janeiro, Marcinho VP, fez a dança da comemoração em cima de ônibus enfileirados em frente a um complexo penitenciário, provocando a polícia para celebrar a saída da prisão do MC Poze do Rodo, acusado de apologia às drogas e cuja mulher também é investigada.
O humorista Léo Lins foi condenado a oito anos de prisão por fazer, segundo a interpretação do Ministério Público Federal, piadas que ferem a dignidade de grupos sociais. O que esses fatos, noticiados no mesmo dia, têm em comum, além de se tratar de combustível para o aprofundamento da polarização? Os três fatos, suas interpretações e teses consequentes, adotadas à direita e à esquerda, serão temas fartamente explorados na campanha eleitoral de 2026, já iniciada.
Embora o desembargador que tirou Poze do Rodo da prisão tenha questionado na sentença as razões que fazem com que fraudadores do INSS estejam soltos e ‘um jovem que trabalha cantando’ tenha sido preso, a apropriação do episódio pelos dois campos políticos foi elevada a outros polos. A esquerda celebrou a saída da prisão como um dia histórico contra o racismo. A direita, como uma vitória da apologia ao tráfico e do poder do Comando Vermelho. Do mesmo modo, a esquerda celebrou a condenação do ‘humorista branco, machista’, enquanto a direita considerou a sentença como um atentado à liberdade de expressão e perguntava se há alguma lei contra piadas preconceituosas.
Lula e a cadeira
No fim do dia, o enquadramento eleitoral era tamanho que uma imagem tripla confundia quem tentava entender as associações feitas. Uma imagem dividida em três trazia, no alto, a fotografia histórica de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos, na década de 80, no ABC Paulista. Ao centro, a imagem de MC Poze com o corpo para fora de um carro conversível, tendo ao redor uma multidão eufórica de fãs, na porta da prisão. Embaixo, outra imagem histórica de Lula, carregado por apoiadores quando se despediu, também no Sindicato de Metalúrgicos, ao ser preso em 2018.
Diante das teses de feed no dia, a dúvida: aquela era uma imagem maledicente, montada pela direita, para associar Lula a um artista que faz apologia ao tráfico e inscreve CV em sua ficha prisional, de próprio punho? Ou era uma imagem celebratória da esquerda para erigir Poze ao patamar de herói das massas, comparável a Lula, injustiçado e preso por razões políticas? Chegamos a esse tipo de confusão interpretativa. E havia quem perguntasse por que a justiça foi cega com Zambelli e tem tamanha acuidade com Vivi Noronha, mulher de Poze. Ainda bem que, em Salvador, no mesmo dia, o debate era sobre o plágio de umas cadeiras de ricos.
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