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Lula, a química e Eduardo

Lula, a química e Eduardo

Seja lá o que aconteça entre Lula e Trump, se aproximação para negociação ou se atração para desmoralização à la Zelensky, é fato que não tem como o roteiro de Eduardo Bolsonaro ter final feliz para ele próprio

Lula, a química e Eduardo

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 25 de setembro de 2025 às 06:59

Em se tratando de Donald Trump, tudo é possível. E nem os deuses devem saber o que significará, no futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos, ele ter declarado, do púlpito da ONU, que gosta de Lula e que rolou, em poucos segundos e durante um abraço, uma química excelente entre ele e o presidente do Brasil. Mas, seja lá o que signifique, parece não haver dúvida do quanto essas frases meio ‘match’ devem ter batido e doído no coração e no cérebro de Eduardo Bolsonaro, nos Estados Unidos. Há meses, o Zero Três do clã Bolsonaro apostou a vida, o mandato e a liberdade para destruir Lula, Alexandre de Moraes, o Supremo e o governo. 

Imerso nesse projeto pessoal missionário, Eduardo, vamos combinar, provavelmente esperaria, no mínimo, que, citando o Brasil em sua fala, com teleprompter quebrado, e falando de improviso, Trump elogiaria seu pai, criticaria Lula, o ministro Alexandre e outras manifestações do tipo. Não, Trump não citou PALAVRA sobre o ex- presidente. E fez coisa muito pior. Elogiou Lula em termos afetivos. Não bastasse o conteúdo puro, editado e publicado na imprensa do mundo inteiro sobre a tal química, a frase se tornou meme numa escala absoluta. A entrada do humor na memosfera se deu basicamente pela chave da sofrência amorosa, da traição, da dor de cotovelo e da dor de corno. 

Seja lá o que aconteça entre os presidentes Lula e Trump, se aproximação para negociação ou se atração para desmoralização à la Zelensky, é fato que não tem como o roteiro que Eduardo está escrevendo nos Estados ter final feliz para ele próprio. A semana, para ele, além do anúncio solene, em escala planetária, da “química”, trouxe um combo poderoso de más notícias. No Congresso, o presidente da Câmara, Hugo Mota, impediu que ele fosse indicado como líder da oposição na Casa, um artifício criado por ele e seus aliados para impedir que perca o mandato por faltas. Ao mesmo tempo, a PGR abriu um processo acusando-o de estar fora do país, agindo para obstruir a Justiça no Brasil. 

Desabamento do apoio

Na mesma semana em que Trump diz literalmente que gostou de Lula, o fato de as sanções cavadas por Eduardo nos Estados Unidos terem atingido a família de Alexandre de Moraes fez com que seu apoio no Congresso caísse ainda mais, em termos numéricos. Ou seja, a continuidade do seu mandato na Câmara a cada dia parece ter menos futuro. Nos bastidores da Casa, calcula-se que, ao viajar para os Estados Unidos buscando criar, na Casa Branca, o máximo de dificuldades para o Brasil, a economia brasileira e a Suprema Corte, Eduardo tinha o apoio de cerca de 200 colegas de mandato, dispostos a defendê-lo publicamente. Hoje, jornalistas que cobrem o Congresso calculam que esse número não chega a 30. 

E houve mais contra Eduardo. Começou a tramitar no Conselho de Ética o processo de cassação do mandato, por ataques ao Supremo. E, simultaneamente, a ampulheta das faltas às sessões presenciais começa a ameaçá-lo. Ser obrigado a ficar nos Estados Unidos se o Governo Trump reduzir o tom contra o Brasil é o pior dos mundos para o Zero Três. Voltar, sem mandato e com o risco de ser preso é tão inferno quanto. Não há cenário bom para Eduardo. Sua festa começou a desabar.