Ela sabe quando você mente: série ‘Poker Face’ reinventa o clássico formato de mistério com uma protagonista caótica e com uma habilidade peculiar

Nem toda heroína usa capa, quer salvar o mundo ou faz o tipo boazinha. Às vezes, ela só quer sair da encrenca e tropeça em outras maiores. Poker Face, disponível na Universal+, acompanha Charlie Cale, uma mulher que aparece presa em um cassino até que algo acontece. A partir daí, passa a viver na estrada fugindo de um problema e esbarrando em vários outros. A cada parada, um mistério, um crime, uma injustiça e, claro, uma chance de colocar sua habilidade especial em ação: Charlie consegue detectar, com precisão quase absoluta, quando alguém está mentindo. “Mentira!”, grita.

Apesar de parecer místico, o dom de Charlie está mais para instinto do que mágica. Não há explicação sobrenatural nem poção mágica – e mesmo que tivesse, a produção é tão bem feita que tudo acontece de forma bem feita e conectada. A série se apoia em uma estética moderna, uma estrada empoeirada de fundo, roteiros inteligentes e uma protagonista que rouba a cena em qualquer situação. Natasha Lyonne entrega uma personagem que mistura humor ácido, senso de justiça, um jeitão largado e aquele olhar de quem sabe mais do que fala.

Charlie não investiga por profissão, nem por obrigação. Ela simplesmente não consegue deixar passar quando vê algo errado. Ao estilo de algumas séries de detetive, Poker Face tem episódios com reviravoltas bem amarradas, personagens marcantes e narrativas que variam de ritmo sem cair na mesmice. A cada novo caso, há uma mudança de cenário e de personagens. Esse dinamismo se apresenta como um dos grandes trunfos da série.

No fundo, Charlie Cale é uma doidona daquelas que a gente se identifica, fugindo dos próprios traumas enquanto resolve os dos outros. Poker Face entrega uma história divertida, tensa e visualmente bem construída, ainda com espaço para uma pitada de crítica social. É uma série que aquece ao longo dos episódios e mostra que nem sempre quem tem as melhores respostas, consegue lidar com as próprias perguntas.