Indicações da Metropole
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No primeiro disco, cantora paulistana projetada no grupo Rumo ergue as bases de sua trajetória ao aliar tradição e modernidade

Foto: Gal Oppido
A música brasileira está mais do que bem servida de cantoras, sejam elas intérpretes ou "cantautoras". Entre tantos trabalhos merecidamente reconhecidos de divas da canção popular como Elis, Gal e Bethânia, há artistas que correm (quase) por fora do mainstream, mas têm público fiel e enorme prestígio junto à crítica. É o caso de Ná Ozzetti, que iniciou a bem-sucedida trajetória em 1979, como parte do grupo Rumo, expoente da chamada Vanguarda Paulistana. Em seu álbum de estreia solo, lançado em 1988, a cantora prova que tradição e modernidade podem coexistir pacificamente, ganhando cores nunca antes vistas.

No disco, que leva seu nome e está disponível nas plataformas digitais, Ná estrutura firmemente as bases que vieram a orientar sua carreira nas décadas seguintes. O ouvinte tem a chance de parar tudo pra conferir clássicos da canção ressurgirem quase falados, como histórias contadas ao pé do ouvido. Surge a oportunidade rara de escutar uma intérprete de timbre cristalino passear (esse é o termo) do samba à balada, do funk à música caipira, com suavidade, precisão, desenvoltura e um jeito muito próprio. Ná revisita grandes obras da música popular, como "No Rancho Fundo" e "Sua Estupidez", ao mesmo tempo que dialoga musicalmente com seus colegas de geração - "Cardápio Barra Pesada" tem a participação do compositor da faixa, Itamar Assumpção, outro grande nome da Vanguarda Paulistana - e apresenta novidades ao público, a exemplo de composições de José Miguel Wisnik. Destas, vale destacar "Sócrates Brasileiro" e "A Olhos Nus" - que, anos depois, fez parte da trilha da novela "Velho Chico", em nova gravação.
Os arranjos do álbum "Ná Ozzetti" são extremamente inventivos e coesos, valorizados por uma produção técnica e artística muito competente. Tradição e vanguarda se encontram também na identidade sonora: por um lado, há cordas e sopros densos, encorpados; ao mesmo tempo, as baterias eletrônicas, samplers e sintetizadores, tão em voga nos anos 80, marcam presença. Sem exageros, é claro.
Mais de 30 anos após o lançamento deste trabalho, Ná Ozzetti segue como uma das cantoras mais relevantes de sua geração. De lá para cá, ela se descobriu também compositora e estabeleceu pontes com novos artistas da cena paulistana, como o grupo Passo Torto, com o qual gravou um álbum em 2015. Ao mesmo tempo, fez um disco em tributo a Carmen Miranda e revisitou o repertório de outras divas da canção brasileira, além de retomar o trabalho com o Rumo em diversas oportunidades.
Essa multiplicidade de caminhos já era apontada no primeiro álbum de Ná. Já havia ali o olhar para o passado e para o futuro, deixando sempre a sua marca em cada abordagem do ontem e do hoje, o que prova que desde o início a artista paulistana sabia bem o que queria para sua carreira. Foi lá e fez, mesmo que nem sempre tivesse recursos. Talento, por outro lado, jamais faltou.
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