Preço de voos entre Salvador e Ilhéus chega a R$ 7 mil, assusta passageiros e supera passagens internacionais

Ir de Salvador a Ilhéus, cidades separadas por cerca de 400 quilômetros, virou um exercício de paciência e de bolso fundo, caso o cliente prefira percorrer a distância pelo céu. Entre dezembro e janeiro, período de alta demanda turística na Bahia, os preços das passagens aéreas chegam a R$ 7.100, sem a possibilidade de voo direto e com tempo total de deslocamento que pode ultrapassar cinco horas.

O valor mais alto encontrado para o trecho Salvador-Ilhéus envolve uma conexão e 5h30 de viagem. Em opções consideradas “mais baratas”, o passageiro paga cerca de R$ 3.700, mas enfrenta escalas que estendem o trajeto para até 25 horas, um tempo equivalente a uma viagem intercontinental. Os valores foram levantados no Skyscanner, plataforma de mapeamento e comparação de tarifas aéreas. 

O assunto foi pauta do Jornal da Bahia no Ar da última quarta-feira (17) e os valores chegaram a assustar ouvintes da Rádio Metropole. Teve quem achou que fosse mentira, mas bastou uma pesquisa rápida para fazer a confirmação. "Quando reclamam que o baiano não conhece o próprio estado, como que vai conhecer a Bahia com um voo desse valor?", questionou um ouvinte. 

Os números ficam ainda mais desproporcionais quando comparados a outros trechos. Saindo de São Paulo para Ilhéus, uma distância de cerca de 1.700 quilômetros, a passagem mais cara no mesmo período chega a R$ 5.980. A partir de 14 de janeiro, já é possível encontrar passagens abaixo de R$ 2 mil, com o menor valor registrado em R$ 1.540. Ou seja, voar por uma distância quase quatro vezes maior custa menos do que sair da capital baiana rumo ao sul do próprio estado.

Mais caro do que sair do país

Quando comparado a um destino internacional, o susto é ainda maior. É possível encontrar voos diretos entre Salvador e Buenos Aires por cerca de R$ 1.800 nesse período. Para Paris, cerca de 8 mil quilômetros, o valor varia entre R$ 5 mil e R$ 8 mil, dependendo da data. Em determinados dias, o preço é semelhante ou até inferior ao cobrado para chegar a Ilhéus.

Os motivos para esse valor são muitos. A alta estação é uma delas, já que Ilhéus é a porta de entrada para muitas praias cobiçadas nas festas de final de ano. A baixa frequência de voos e a concentração do mercado em poucas companhias também pesam no preço. Atualmente, Latam, Gol e Azul atuam nesse trajeto. 

Prioridade no turista estrangeiro

Enquanto isso, Salvador amplia sua malha aérea internacional. Em dezembro, a capital passou a operar voos diretos para Buenos Aires, justamente na abertura do verão. A operação ocorre entre 17 de dezembro de 2025 e 29 de março de 2026, com frequências às quartas, sextas e domingos. A expansão reforça o foco na atração de turistas estrangeiros, mas escancara um desequilíbrio: para o baiano, circular dentro do próprio estado segue caro, demorado e limitado. No auge da temporada, viajar cerca de 400 quilômetros dentro da Bahia pode custar mais e levar mais tempo do que cruzar oceanos.

Apesar dos valores, a expectativa do Aeroporto de Ilhéus é que, 20 de dezembro e 04 de janeiro, 47,4 mil passageiros sejam recebidos para os 350 voos programados. Em meio a essas expectativas pela alta temporada, a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) ainda aprovou um reajuste linear de 4,68% em todas as tarifas cobradas pela utilização do aeroporto. O reajuste abrange a tarifa de embarque e pouso domésticos, fixadas respectivamente em R$ 47,70 e R$ 14,93.

O que já funcionou e foi interrompido

Até pouco tempo atrás, a Bahia chegou a ter uma alternativa aérea regional viável. O voo entre Feira de Santana e Salvador durava cerca de 30 minutos e custava R$ 97. A operação começou em 4 de julho de 2023 e foi encerrada em 1º de julho de 2024, com menos de um ano de funcionamento. O fim da rota reduziu ainda mais as opções de mobilidade aérea interna no estado, num cenário já marcado por tarifas elevadas e poucas alternativas para o deslocamento regional.