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"Filho não se divide, se cuida"; confira artigo de Maiara Liberato
A participação do pai e da mãe na vida dos filhos agora é regra em casos de separação. A Guarda Compartilhada, antes exceção, tornou-se a norma com o advento da Lei 13.058/2014, que permite ao juiz impor essa condição, caso os genitores estejam aptos a exercer o poder familiar e não tenham feito um acordo sobre essa questão. [Leia mais...]

Foto: Divulgação
A participação do pai e da mãe na vida dos filhos agora é regra em casos de separação. A Guarda Compartilhada, antes exceção, tornou-se a norma com o advento da Lei 13.058/2014, que permite ao juiz impor essa condição, caso os genitores estejam aptos a exercer o poder familiar e não tenham feito um acordo sobre essa questão.
Essa conquista é fruto, sobretudo, da luta pelos direitos da criança e do adolescente, que são indivíduos ainda em desenvolvimento e, por isso mesmo, necessitam da convivência com o pai e com a mãe, se possível, pois cada um vai exercer papéis e funções específicas que irão moldar a personalidade e o caráter dos filhos.
Até pouco tempo, a Justiça brasileira concedia a guarda unilateralmente à mãe – assim era na maioria dos casos – ou, excepcionalmente, àquele que tivesse melhores condições de criar a criança, fosse o pai, a avó, o avô. Essas decisões tinham por base uma questão cultural, em que o cuidado da casa, da família e da educação dos filhos era papel da mulher.
Com tantas mudanças na sociedade, avançou-se também na compreensão de que pessoas em formação têm necessidades especiais e específicas e necessitam do duplo referencial, para ter um desenvolvimento saudável e equilibrado, do ponto de vista emocional e psíquico. Com isso, os legisladores voltaram o olhar para essa delicada questão.
ADMINISTRAR A PERDA
Separação é uma situação dolorosa e difícil para todos os envolvidos, mesmo para aqueles que tomaram a iniciativa de pôr fim a um relacionamento que já não satisfazia mais. É imprescindível ter respeito pelo outro e tentar manter equilíbrio e harmonia para administrar a perda e a dor, sem usar os filhos como escudos e ‘armas’ para atingir a outra parte.
Não existe ex-filho. A relação afetiva que acaba é a do casal. O amor parental e filial é diferente do amor entre os pares. Para uma criança e um adolescente, esta ruptura é tão ou mais dolorosa que para os seus genitores e, mais do que nunca, eles precisam se sentir protegidos e amados.
Se sentir preterido por um dos pais causa sérios transtornos no desenvolvimento dos pequeninos. “Será que ele(a) não gosta mais de mim? Será que também deixou de me amar? Será que eles se separaram por minha culpa?”, são questões que acometem os filhos. E, caso eles internalizem um sentimento negativo a partir daí, o futuro de suas relações será o reflexo dessa confusão.
Para Sergio Vasconcelos, pai que não vê suas duas filhas há mais de dois anos, é difícil seguir adiante, pois os olhos ficam grudados o tempo todo no retrovisor, o que compromete a sua vida em todos os âmbitos.
FUNÇÕES DO PAI E DA MÃE
Existem 20 milhões de crianças e adolescentes vítimas de pais separados e, desses, 16 milhões são vítimas de alienação parental, segundo dados do IBGE. Em 85% dos casos a alienação parte da mãe, que tem uma importância representativa na formação da estrutura psíquica dos filhos. O que ela diz é quase lei.
Para o psiquiatra e terapeuta, Gervásio Araújo, vivemos uma crise de paternidade. A presença do pai é tão necessária quanto a da mãe, desde a gestação, quando ele é cuidadoso com a esposa, interage com o bebê, ajuda a cuidar das necessidades do momento e participa da vida desse novo ser.
Enquanto a mãe significa amor, carinho, cuidado e afeto, o pai representa a lei, a ordem, a orientação, o limite, mesmo que ele não fale nada. Essa conjunção é a base que a criança precisa para ter um emocional e psíquico saudável e forte.
Se a relação não deu certo, é preciso administrar a perda, ao invés de querer punir a outra parte por ter deixado de gostar. Ninguém escolhe ou controla quem amar ou não. Não dá para punir o sentimento alheio e muito menos um dos genitores ou os filhos. O laço conjugal se dissolve, mas os laços filiais persistem.
Não dá para jogar pais e filhos uns contra os outros. Nessa luta, não há vencedores, todos saem perdendo. Os filhos ficam divididos; é como se fossem cortados ao meio e essa ruptura causa enorme estrago. Além disso, diversos casos já mostraram que os filhos que cresceram afastados dos pais, por influência materna, quando se tornam adultos desenvolvem raiva da mãe pelo “sequestro do tempo” que ela causou na vida dos dois e que é irreparável.
QUEM AMA COMPARTILHA
Como bem colocou Claudio Carvalho, psicanalista e membro da ABCF Bahia – Associação Brasileira da Criança Feliz, na alienação parental, a criança passa por uma situação de orfandade de pai e mãe, pois o alienador não está com uma saúde psíquica saudável e em condições de zelar pela criança. Quem aliena, se demite do papel e da sua função, já a parte alienada é morta em vida. Quando a mãe ou o pai buscam fazer o papel um do outro, ele(a) sai do seu papel, deixando de cumpri-lo como deveria.
Na Guarda Compartilhada, o duplo domicílio não é necessário, mas pode acontecer. Morar em casas separadas não é o maior ofensor para a criança e, sim, o impedimento de ter acesso saudável a um dos pais. Filho é parte dos dois.
Para conscientizar a sociedade dessa questão e fortalecer a luta de pais vítimas de alienação parental, surgiu a ABCF, que é uma Ong presente em 14 estados da federação, que trabalha contra a alienação e a favor preservação dos laços familiares.
A instituição da Guarda Compartilhada como lei foi extremamente importante, mas não há lei e nem justiça que seja capaz de sanar a dor na alma das pessoas.
Pai e mãe, quem ama cuida e compartilha!
*Maiara Liberato é jornalista e radialista, com especialização em Psicologia Organizacional e formação em História de Vida. Uma amante da vida e das pessoas.
Contatos: 71 9964.0615/maiaraliberato@duettoeventos.com.br
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