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'Nunca fomos tolerantes', diz historiadora Lilia Moritz sobre autoritarismo brasileiro

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'Nunca fomos tolerantes', diz historiadora Lilia Moritz sobre autoritarismo brasileiro

Ela usa argumentos para explicar o que acontece no Brasil hoje, a exemplo da escravidão e do mandonismo

'Nunca fomos tolerantes', diz historiadora Lilia Moritz sobre autoritarismo brasileiro

Foto: Renato Parada/ Companhia das Letras/ Divulgação

Por: Juliana Almirante no dia 26 de junho de 2019 às 09:10

Autora do livro "Sobre o autoritarismo brasileiro", a historiadora e antropóloga Lilia Katri Moritz Schwarcz falou, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (26), sobre as origens do autoritarismo no país. Ela cita a obra "Raízes do Brasil", do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, que aborda aspectos centrais do processo de formação da sociedade brasileira.

"Nunca fomos tolerantes. Até Sérgio Buarque de Hollanda, nos anos 30, foi mal lido. Ele não elogiava a cordialidade. Ele dizia que era uma espécie de ponta do iceberg. Na verdade, os brasileiros escondiam tudo tentando cruzar esferas publicas e privadas", afirmou a acadêmica, que é professora titular do departamento de antropologia da USP e visitante em Princeton, nos EUA.

Lilia afirma que o livro dela surgiu a partir de publicações feitas no portal Nexo sobre o contexto histórico dos acontecimentos das eleições do ano passado. Depois de proposta da editora Companhia das Letras, decidiu, além de reunir os artigos, se voltar ao estudo para entender as causas do autoritarismo brasileiro.

Ela usa alguns elementos como argumentos para explicar o que acontece no Brasil hoje. "Eu começo falando de escravidão e  racismo, como  a escravidão é um nó incontornável da nossa realidade contemporânea. Não viveremos uma democracia enquanto convivemos com esse racismo estrutural e institucional no Brasil. Eu apresento números para que fique bem claro para o leitor como não adianta só nós culparmos a escravidão do passado, uma vez que estamos recriando  em novas bases esse tipo de racismo no Brasil", pontua.

No segundo capítulo, a historiadora trata de mandonismo, para que o leitor entenda como construímos as figuras poderosas vinculadas à terra. "O Brasil é o quinto país da América Latina com maior concentração de terra. Mostro como ela está em estados que, quanto maior a concentração de terras, maior a desigualdade social. Mostro ainda o patrimonialismo, que vem desde o começo da colônia, a mistura entre esferas públicas e privadas, de onde vem nossa desigualdade social", explica.

Lilia ainda escreveu um capítulo especificamente sobre a corrupção, o mais longo e mais difícil de escrever, que chega até o período contemporâneo. "Depois trato de intolerância social, porque os brasileiros que sempre gostaram de se definir como um povo harmonioso - por mais que saibamos que não somos e é uma representação - porque agora estamos mostrando publicamente essa parte de tanta intolerância social, cultural e de gênero. É um livro que vai ao passado e volta ao presente", afirma.