
Brasil
Renato Janine Ribeiro: “Mortes deveriam gerar compaixão e não ‘e daí?’”
A distância na hora da morte, causada pelo Covid-19, dificulta o processo de aceitação da morte, na opinião do filósofo

Foto: Reprodução / Youtube
Ex-ministro da Educação do Brasil, professor e filósofo, Renato Janine Ribeiro lamentou a forma com que o Brasil tem lidado com as mortes em decorrência do coronavírus. “Tem manifestações que as pessoas deitam em caixões, brincam com uma praga terrível, sem remédio, sem vacina, boa parte do mundo parado. A única forma de enfrentar é evitar encher os hospitais. Nós temos gente brincando com isso, um governo federal que não dá importância, todo esforço de estados e municípios sendo sabotado”, afirmou, a Mário Kertész, na Rádio Metrópole.
Janine lembrou ainda da homenagem que o presidente Jair Bolsonaro prestou a MC Reaça, que cometeu suicídio após espancar sua mulher, que estava grávida. “É muito desprezo. Um presidente que faz uma espécie de luto para um cantor que espancou a namorada, faz luto por ele, não é exatamente um exemplo ético, e ignora a morte de grandes, como João Gilberto. Parece que tudo está pelo contrário, pelo avesso”, constatou.
A distância na hora da morte, causada pelo Covid-19, dificulta o processo de aceitação da morte, na opinião do filósofo. “Eu acho terrível pensar que uma pessoa que está com Covid-19 não pode ter uma mão segurando. São mais de 300 mil pessoas no mundo que deixaram esse mundo sem ter os entes queridos. E por outro lado os seus filhos, próximos, não terão a ocasião de ver o corpo da pessoa querida. Talvez beijar, rezar, isso deveria gerar compaixão, jamais um ‘e daí’”, disse.
Janine Ribeiro comentou ainda a entrada de militares no Ministério da Saúde. Com a saída do médico Nelson Teich, o interino, Eduardo Pazuello, colocou 13 oficiais em autarquias da pasta que está no enfrentamento à doença. “Chamar militares... eles têm competência em várias coisas, acredito que militares na logística podem ajudar em várias questões, mas não faz sentido ter milhares de militares em cargos de confiança. Não faz sentido quando está processando direito de aposentadoria, colocar militares. Há países que estão antecipando a formatura de estudantes. No Brasil, teve gente sendo agredida por ser médica. Parece que em um certo momento, os valores humanos estão sendo atacados”.
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