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Segunda-feira, 25 de março de 2024

Brasil

Socióloga não vê condições para impeachment, mas projeta: 'Caminharemos para isso'

Na avaliação da analista, o apoio das Forças Armadas não é tão fácil de ser percebido, mas ela acredita que o presidente empurra o Exército para uma fase de descrédito

Socióloga não vê condições para impeachment, mas projeta: 'Caminharemos para isso'

Foto: Reprodução/YouTube

Por: Alexandre Galvão no dia 29 de maio de 2020 às 13:36

Cientista política e socióloga, Maria Hermínia Tavares não vê, ainda, condições concretas para o seguimento de um processo de impeachment contra o presidente da República, Jair Bolsonaro. Ela acredita, no entanto, que o país caminha para esse processo, que será o terceiro em menos de 30 anos e o segundo em menos de 10 anos. 

“Existem 35 pedidos de impeachment na mão de Rodrigo Maia. Ele tem uma situação difícil, ele só pode abrir, independente da sua vontade, se tiver certeza que o processo vai à frente. Por enquanto, não está claro. As instituições estão respondendo, seja ao Supremo, seja à presidência da Câmara e Senado, com prudência. O presidente chama ao confronto e as instituições dizem que não é assim. Onde isso vai dar? Não sei. Por outro lado a gente sabe que processos de impeachment têm condições. Crise, e isso temos, perda de apoio no congresso, que temos de certa forma. Opinião e gente na rua, que não temos, mas o prestígio dele está caindo. Outra coisa é que o vice tem que conversar com as forças que querem tirá-lo. Ninguém vai para o impeachment sem saber o que vem no dia seguinte. O Itamar [Franco, vice de Fernando Collor] conversou com as forças que derrubaram o Collor, o Temer conversou com as forças que derrubaram a Dilma e obviamente, o vice aparentemente está ali, sem se mover. Ele fez um artigo no Estadão que é assustador. Em uma linguagem mais polida, ele reiterou o que Bolsonaro fala de forma mais bruta. Nessas condições, estamos num impasse difícil”, analisou, hoje (29), em entrevista a Mário Kertész. 

Na avaliação da analista, o apoio das Forças Armadas não é tão fácil de ser percebido, mas ela acredita que o presidente empurra o Exército para uma fase de descrédito, principalmente ao jogar no colo dos fardados a gestão da crise do coronavírus.

“As Forças Armadas, como outras estruturas, são opacas. Demos um passo atrás num processo virtuoso, desde a criação do Ministério da Defesa. Não é bom para o país, para as forças armadas, que o ministério fique nas suas mãos. Esse governo procurou dar benefícios para as Forças Armadas, seja tirando os militares da reforma da Previdência, seja financiamento para projetos militares, que estão aí. O mais preocupante é o Ministério da Saúde. O sistema é complexo. A gestão do SUS envolve os três níveis de saúde e entregar isso a pessoas bem intencionadas, mas que não têm a menor ideia de como funciona, num governo que não tem respeito pelo que os cientistas dizem, é um risco de um desastre que vai ocorrer. Daqui há pouco vamos ter 20 mil pessoas morrendo por dia. Isso vai cair no colo das Forças Armadas. Eles regem pelos princípios da hierarquia e nunca falarão com clareza o que acham. É torcer para que o bom senso presida as reuniões dos militares”, brincou.

Na avaliação de Maria Hermínia Tavares, Bolsonaro “vive do confronto”  e esse modelo contrasta com a posição que a Presidência pede. “ A forma de fazer política é muito danosa. As instituições têm resistido e muita coisa dele fica só na fala, você sabe que a fala de uma pessoa que está à frente de um governo também faz parte. A fala também é ação. O que ele produz é um enorme desassossego”.

Tido como um dos fiadores do projeto de Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, está “perdido” na gestão da crise financeira que se avizinha, aponta a especialista. “Ele não tem a menor ideia do que fazer, a não ser abrir cassino. Isso é uma crise que demanda coordenação e políticas de recursos públicos usados para sustentar o mínimo da economia. Guedes não tem ideia do que fazer. Isso vai deteriorando as condições e acho que Caminhamos para um crise séria e um impedimento. Ditador começando com 30% de apoio, se é que tem, provavelmente menos, é muito difícil”, apontou.