
Brasil
Filósofo alerta para criação da 'Venezuela brasileira' por Bolsonaro
José Arthur Giannotti aponta tentações autoritárias, com iniciativa de apropriação do estado por grupos ligados ao presidente

Foto: Metropress
Professor aposentado de filosofia da USP, o filósofo José Arthur Giannotti comentou as aspirações autoritárias do governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) e alertou para a instituição de um estado comandado por grupos ligados ao presidente. Em entrevista a Mário Kertész hoje (10), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ele afirmou que não se podia prever o país chegasse a essa situação.
"A construção de um governo político que não sabe o que é política e que não diferencia estado de governo, é algo que, em nossa história, não parecia crível. O que temos hoje é uma situação muito complicada. Um grupo de pessoas toma conta dos aparelhos de estado e vão, conforme as vagas vão abrindo, colocando seus amigos. Temos uma espécie de uma Venezuela brasileira, um aparelho de estado formado por amigos. Todos os julgamentos e problemas serão resolvidos por eles, do ponto de vista deles e não do ponto de vista do Brasil. É uma espécie de uma apropriação do estado por um grupo cujas qualidades intelectuais não são das melhores", comentou.
Ainda segundo Giannotti, os limites legais já foram estabelecidos na Constituição. No entanto, a falta de lideranças políticas inviabiliza o debate e a organização de uma oposição firme ao governo. "Nós temos os limites legais, não é falta de regra. Acontece que nós estamos numa mudança de geração. A minha geração política comportou FHC, Lula e assim por diante. A nova geração não está construída, embora existam elementos que prometem bastante, como Tábata Amaral e assim por diante. Mas isso precisa se constituir em grupos políticos que atuem politicamente num nível nacional. Isso não estão fazendo", disse o filósofo.
"Nós temos que incentivar as nossas reais lideranças a se formarem. Não temos grandes lideranças no Brasil hoje. Vi outro dia num programa de televisão, Ciro, FHC e Marina. Muito cordiais, Ciro e Fernando trocando beijinhos. Mas acontece que eles não têm mais grande poder. O poder está num Congresso esmiuçado e num Supremo que está extremamente formalizado. Ninguém aguenta um voto de um ministro de um Supremo porque demora 1h30 para ser lido", acrescentou.
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