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Em tempos de crise, o que você vai fazer pra que o fim de ano valha a pena?
Que 2015 não foi fácil, todo mundo sabe. E, num ano de crise e problemas por todos os lados, o tal espírito do Natal divide cada vez mais opiniões. A administradora Telma Meireles é do time dos que preferem acreditar [Leia mais...]

Foto: Tácio Moreira/Metropress
Que 2015 não foi fácil, todo mundo sabe. E, num ano de crise e problemas por todos os lados, o tal espírito do Natal divide cada vez mais opiniões. A administradora Telma Meireles é do time dos que preferem acreditar, até o fim, nos sentimentos positivos que a data evoca. Ela aposta nas boas energias para dar adeus de vez à zica — também a causada pela epidemia do Zika, o vírus — que ficou impregnada neste ano.
Amante assumida das festas de fim de ano, ela prefere agarrar-se à tradição para superar a fase. “Foi um ano muito complicado. Um ano de muitas restrições, muito arrocho, mas se procurar [ajudar o próximo], consegue. Apertando aqui, apertando ali, dá”, conta Telma, que ajuda o lar para idosos Maria Luiza, em Salvador.
Mas há quem fuja do tal espírito natalino. Ouvindo a cantora Simone anunciar, há exatos 20 anos, que “então, é Natal”, o vendedor Antônio Oliveira não tem mais a menor paciência para o clima festivo de fim de ano. Nos últimos seis anos, o saco está cheio — e não é de presentes. “Minha filha, não tem espírito de Natal. Nem o Papai Noel aguentou e foi embora, porque são as mesmas músicas! Aquela de John Lennon [Happy Xmas, exatamente a música que deu origem a “Então é Natal”], então, parece mais música sertaneja, tocando 24 horas por dia. ‘Então é Natal’? Sei de cor. Quer que eu cante de trás para frente?”, desabafa o lojista de um dos maiores shoppings da cidade. “Não aguento mais o mesmo CD. É o dia todo. Todo Natal é tudo repetido. É o mesmo CD”, completa.
Pelo visto, até simone resolveu tirar férias do “Então, é natal”...
Um dos símbolos — positivos ou não — da época festiva, a cantora Simone resolveu dar um tempo da data anunciada por ela por longos 20 anos, desde o lançamento do álbum ‘25 de Dezembro’, em 1995, que traz além da tradicional “Então é Natal”, hits como “Boas Festas”, de Assis Valente, uma das pouquíssimas músicas de Natal legitimamente brasileiras — aquela do “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel...” que com certeza já deprimiu você ou alguém da sua família.
Procurada pelo Jornal da Metrópole para comentar a persistência da polêmica instaurada por conta das homenagens ao período festivo, a assessoria da cantora informou que Simone “entrou de recesso no Natal” e vai voltar a assumir os compromissos de agenda e entrevista apenas em janeiro. Será que até Simone fugiu da música?
Pelo menos até 2013, porém, ela ainda defendia, firme e forte, seu CD de Natal. “Eu lamento e acho violento que as pessoas saiam das lojas quando minha música toca. É uma lástima”, disse à TV Globo.
Fé e reflexão contra a má fase
Brincadeiras à parte, a época natalina também é cercada de tradição e religiosidade. À Metrópole, o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, pede que as pessoas conheçam o real sentido da festa. “A gente precisa apresentar ao Brasil um Natal diferente. Não com um Papai Noel da Coca-Cola, que foi criado para o consumo”, afirmou o religioso.
Para o sempre bem-humorado líder espírita José Medrado, que perturba a apresentadora da Metrópole Luana Montargil ano após ano com a canção de Simone, o momento deve ser dedicado a reflexão.
“As datas são importantes porque sensibilizam. As pessoas dizem: ‘Ah, o Natal é consumismo’. Mas eu acho importante, sobretudo em um fechamento de ciclo. Quando eu uso a música ‘Então é Natal, e o que você fez?’ é uma brincadeira, mas é levando a sério. Chegou o final do ano... E que construção você fez em você?”, questiona.
O natal de albreguinha — e de todos nós
Dentre inúmeros historiadores e antropólogos, nenhum deles saberia falar do Natal como o nosso querido professor Roberto Albergaria, o eterno Albreguinha, que nos deixou este ano. Por isso, como a saudade bateu forte, relembramos um comentário de Albrega em 2010, no Jornal da Cidade 2ª Edição, da Rádio Metrópole, que descreve perfeitamente o sentimento de quase todos nós durante as festas de fim de ano.
“O Natal tem uma dupla face complementar, evidentemente. É a festa de Papai Noel, da família, do amor parental, do painho que ama os filhos. Também do bom vovô que dá presente as criancinhas - quando não é um vovô judeu que só dá aqueles presentes chinfrins [olhando pra Mário Kertész]. Aqui mesmo tem um, mas eu não posso dizer, porque quero tirar minha mãe da confusão. É uma festa de troca de presentes, e troca de presentes é um rito de solidariedade. Por outro lado, o Natal também é a festa de Jesus. Os dois são concorrentes, mas no fundo são complementares. Jesus Cristo, na nossa mitologia ocidental moderna, representa a festa do altruísmo, do amor humano, da fraternidade, quando todo mundo vai para a igreja, missa do Galo, missa da Galinha e depois sai distribuindo presentes para as criancinhas. Todo mundo fica bonzinho, fica bonzinho dentro de casa, na rua. É a época que a cultura nos programou. Durante o ano inteiro a gente é sacana, e no fim do ano a gente tem que ser bonzinho pelo menos uma semana, ao menos 15 dias. E é por isso que as pessoas têm se tensionado a ter que fazer o balanço do outro ano, têm que aguentar a tia velha, a irmã perua...”
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