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‘Foi um escândalo um grupo de viados quererem se organizar’, diz fundador do Grupo Gay da Bahia
Antropólogo Luiz Roberto de Barros Mott contou sobre as início difícil do grupo que completou 41 anos

Foto: Reprodução/Youtube
Na última semana, um artigo do poeta James Martins no portal Metro1 mostrou como era a discussão sobre a chamada “cura gay” em Salvador, que chegou a ter um centro de recuperação para homossexuais ainda nos anos 90. No artigo, James desenterra uma entrevista do pastor e vereador Álvaro Martins ao Documento Especial, da TV Manchete, em 1990, quando o centro ainda era um projeto contra a militância do Grupo Gay da Bahia (GGB).
Nesta quinta (18), o fundador do GGB, o antropólogo Luiz Roberto de Barros Mott, foi o entrevistado do Jornal da Cidade. Sobre o início do grupo, fundado em 1980, ele foi categórico: “Foi um escândalo um grupo de xibungos, de viados, quererem se organizar”.
O grupo, que hoje comemora 41 anos, foi o primeiro do Norte e do Nordeste a reivindicar o direito de se organizar para defender os direitos e a cidadania. Segundo Lott, já existiam dois ou três grupos em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas o GGB foi pioneiro por aqui. “Tentamos registrar o grupo como uma sociedade civil para defesa dos direitos da população homossexual. O tabelião se recusou — isso foi em 80, a ditadura acabou em 85 — dizendo que devia haver autorização da polícia federal”.
O grupo foi reconhecido tempos depois, quando conseguiu o parecer favorável de um juiz.
“A partir daí começou a AIDS, uma tragédia, que atingiu sobretudo os gays. Foi chamada de peste gay. E o grupo GGB começou a fazer a prevenção, a fazer a distribuição de preservativos, mais de 2 milhões foram distribuídos, e garantiram a vida de milhares de baianos e baianas”.
Foi assim que o grupo conseguiu ser outorgado como título de utilidade pública municipal na Câmara, e despertou a raiva de figuras como o pastor Álvaro Martins e o crítico de cinema Augusto Berbet de Castro, que chegou a escrever no jornal A Tarde: “Mantenha Salvador limpa, mate uma bixa todo dia".
“Esse Álvaro Martins tinha uma clínica de cura gay para curar homossexuais. Uma terapia absolutamente cruel, violenta, e sobretudo anticientífica, charlatanismo, porque não se pode curar o que não é doença e o Conselho Federal de Medicina disse que não era doença, a OMS confirmou em 90 a condição de saudável da homossexualidade. De modo que esse início foi muito difícil pra gente chegar aos 41 anos que estamos completando em 2021”.
Mas apesar dos tantos inimigos, o antropólogo lembra também dos aliados: “Enquanto ACM estava vivo, em mais de 20 anos que convivemos na mesma cidade, eu me encontrei com ele apenas uma vez no museu do Solar do Unhão. ACM nunca criticou os gays, sempre aceitou jovens competentes para trabalhar com ele. Nomeou vários gays para cargos importantes, como o professor Vivaldo Costa Lima, professor de antropologia, que era do Iphan”. O grupo também encontrou apoio em professores da Universidade Federal da Bahia e até mesmo de padres da cidade.
Confira a entrevista completa aqui:
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