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Malu Gaspar traça relação com história recente do Brasil em livro sobre a vida de Eike Batista
Publicação conta a história de ascensão e derrocada do empresário durante o período em que o país era promessa de prosperidade

Foto: Reprodução/Youtube
A jornalista e escritora Malu Gaspar deu um aperitivo de seu novo livro ‘Tudo ou Nada: Eike Batista e a verdadeira história do Grupo X. Na verdade, a publicação foi lançada pela primeira vez em 2014, mas ganhou agora uma revisão e atualização após as tentativas de Eike de se reerguer. Ele precisa pagar a multa para escapar da prisão, depois de um acordo de delação premiada fechado durante a Operação Lava-Jato.
“É uma história de uma época em que a gente era feliz e não sabia, em que o Brasil bombava e o Eike Batista era o grande símbolo brasileiro da riqueza e da prosperidade”, conta Malu.
A jornalista diz que a primeira versão contava como era possível uma figura como Eike Batista se tornar tão rico, virar o sétimo homem mais rico do mundo com um enriquecimento muito baseado em ações e como foi possível que ele tivesse uma derrocada tão rápido.
“Na época eu falava muito o que ele (Eike) significava para nós, um momento de Brasil de bonança, que decolava na capa da Revista Economist e agora eu voltei a esse livro, revisitei, revisei e produzi uma outra reportagem que está no livro como posfácio atualizando toda essa história contando tudo que aconteceu com Eike Batista depois que a história do livro acaba”, explica Malu.
A jornalista lembra que aconteceram muitas coisas. Eike foi alvo da Lava-jato, foi preso duas vezes. Antes disso, ele fugiu para Nova Iorque, voltou, se entregou e fez delação premiada. “Ele tentou se reerguer com negócios mirabolantes, que eu detalho no posfácio e hoje ele está tentando se reerguer vendendo alguma debêntures para pagar a multa da sua delação e escapar de sua prisão definitiva”, detalha.
Para a jornalista, Eike continua sendo uma nova metáfora do Brasil. “Nós estamos naquela fase em que a gente vive uma ressaca, uma depressão daquele período em que a gente era promessa, o Brasil enriqueceu, era uma democracia pujante, a gente estava com tudo no mundo e a promessa ficou, não foi realizada e a gente está tentando sair de uma grande tragédia nacional, econômica, política”, declara. “Estamos vivendo uma ressaca desse período acreditando muitas vezes que soluções simples vão resolver o nosso problema”, completa.
O livro se atém bastante ao perfil psicológico de seu personagem. A jornalista enxerga uma personalidade mitomaníaca (compulsão pela mentira) no empresário. “Era muito comum ele dizer que tinha um trilhão de dólares em barril de petróleo debaixo da terra, a minha mineradora tem as minas melhores do que a Carajás. Ele gostava de contar essas histórias e é muito bom vendedor. Você fica muito na dúvida se ele acredita nessas histórias. Mas eu mostro no livro que não faltou quem avisasse que aquilo que ele estava vendendo não existia”, diz.
“Então, acho que tem um componente mitômano. Tanto assim que ele acredita até hoje que vai aparecer um investidor que vai vir algum investidor mirabolante que vai colocar um bilhão de dólares nas empresas dele falidas. Ele continua vivendo dessa ilusão, mas ele sabe no fundo que isso não existe. Então o que o livro mostra é isso. Ele tentando se desvencilhar dessa realidade que assaltou ele e não deixou dúvidas a respeito”, acrescenta.
Malu cita um episódio que demonstra a ação da personalidade mitômana de Eike afetando os seus negócios. “Ele começa a dizer que ele daria garantia para os negócios funcionarem. ele começa a se enrolar. Ele acredita tanto na própria mentira que começa a colocar dinheiro para garantir negócios que ele já sabia que não teriam o resultado que ele prometeu para os investidores, mas eu acho que ele entra nesse mecanismo de não voltar atrás. Com o dinheiro que vão me dar eu recupero depois. É o cara que vive na pedalada dos negócios”, afirma.
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