
Cidade
Malu Fontes: a requalificação da Orla e as baianas de Acarajé
Com cada início ou inauguração de etapas de obras de requalificação da orla de Salvador, uma reivindicação de anos por parte da população e um fator decisivo para fazer com que tenhamos ou não um turismo de verão em função da atratividade das praias urbanas da cidade - é natural que surjam polêmicas em torno das mudanças estéticas e infra-estruturais adotadas pela Prefeitura nessas reformas. [Leia mais...]

Foto: Reprodução / Correio
Com cada início ou inauguração de etapas de obras de requalificação da orla de Salvador, uma reivindicação de anos por parte da população e um fator decisivo para fazer com que tenhamos ou não um turismo de verão em função da atratividade das praias urbanas da cidade - é natural que surjam polêmicas em torno das mudanças estéticas e infra-estruturais adotadas pela Prefeitura nessas reformas.
O que se viu e ainda se vê na Barra, por exemplo, são queixas dos comerciantes quanto ao fluxo do trânsito no bairro, principalmente quanto às restrições de estacionamento em várias ruas. Os queixosos alegam que as mudanças afastaram os clientes, causando prejuízos e até mesmo falências, com vários estabelecimentos fechando as portas.
A queixa da vez, agora, é dos comerciantes e da população do Rio Vermelho, que, já nas vésperas da alta estação, estão no meio de canteiros de obras que deixam a maioria das ruas cheias de crateras abertas pela reforma e, se não impedem, pelo menos dificultam o acesso dos consumidores e frequentadores a muitos dos estabelecimentos do bairro. O fato é que não existe a possibilidade de fazer uma reforma numa via pública sem causar incômodos e transtornos.
Mas um aspecto que provavelmente será comum a todos os bairros da orla e que vai se repetir na requalificação de todas as etapas inauguradas em Salvador, é a queixa das baianas de acarajé que, há anos, mantinham seus tabuleiros em trechos da orla e na areia da praia. Com a inauguração da reforma da orla de Itapuã, por exemplo, já houve uma amostra dessa insatisfação e uma demonstração de que o poder público precisará de um bom interlocutor para dialogar com as baianas.
Imediatamente após a inauguração, um grupo de 30 delas fechou um trecho da orla em Itapuã em protesto. Elas querem continuar a poder colocar seus tabuleiros na areia da praia e reivindicam que uma quantidade maior delas possa se estabelecer no calçadão.
O fato é que o impasse está estabelecido e pode-se dizer que o poder público tem a seu favor a legislação, que hoje impede a cocção, ou seja, o preparo e o cozimento de qualquer alimento na areia da praia. Não são apenas as baianas que não podem preparar e vender comida na praia. Ninguém pode. Nenhum alimento pode ser preparado na hora, na praia. Não é uma decisão da Prefeitura. É uma lei que proíbe a prática e que, independentemente da tradição das baianas e do acarajé, será cumprida. Quanto a isso, não haverá negociação possível para mudanças.
Quanto a outro aspecto, o poder público precisa explicar e a população tem o direito de saber. Se 30 baianas atuavam nas areias da praia e na orla de Itapuã e somente poucas delas poderão manter seus tabuleiros a partir da reforma, e, mesmo assim, somente no calçadão da orla, o que precisa ser dito e ficar claro é o seguinte: quais são, ou foram, os critérios adotados para decidir quais baianas terão ou não o direito de ficar no local onde já estavam estabelecidas e qual a solução da Prefeitura para aquelas que não poderão continuar nos pontos onde atuavam?
Malu Fontes, jornalista, para a Rádio Metrópole
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