
Cidade
Abandonada, Praça do Reggae comemora 20 anos como depósito de lixo
Em momentos áureos, o espaço recebeu artistas como Edson Gomes, Gregory Isaacs, Denis Brown, Israel Vibration e outros

Foto: Tácio Moreira / Metropress
Inaugurada em 1999, em pleno Largo do Pelourinho, a Praça do Reggae comemora seus 20 anos da pior forma possível. O equipamento, fechado desde 2011, foi abandonado após a promessa de uma reforma miraculosa e hoje é depósito de lixo, mato e dejetos. Quem vê tanta porcaria por trás daquelas grades, nem imagina que por ali já passaram artistas como Gregory Isaacs, Denis Brown, Edson Gomes, Israel Vibration e outros grandes nomes do gênero jamaicano.
"A praça vivia lotada, com gente saindo pelo ladrão. Já teve show com 1.200 pessoas dentro, a lotação máxima, e mais 3.000 fora", lembra Albino Apolinário, fundador do primeiro bar de reggae do Pelourinho, pioneiro de uma movimentação que levou à revitalização do bairro. Hoje, porém, a Praça do Reggae é focada não pelo viés cultural, mas da Saúde Pública. "O mal cheiro que exala aí de dentro espanta os turistas e inferniza a vida da gente que trabalha aqui", afirma a trançadeira Bel do Pelô, que tem ponto bem em frente.
O Rei na Praça. Outros tempos...
Em 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um aporte financeiro de R$ 4,4 milhões que seria investido, através do PAC das Cidades Históricas, em um palco móvel na Praça do Reggae. Por má gestão, o recurso não foi aplicado e retornou a Brasília. Para dar uma ideia do valor desperdiçado, basta lembrar que o mesmo plano direcionou R$ 1,1 milhão (¼) para recuperação das instalações do Terreiro do Gantois e da Igreja São Pedro dos Clérigos. Aliás, a responsabilidade sobre a praça é um eterno jogo de empurra entre o Ipac (autarquia da Secult) e a Diretoria do Centro Antigo de Salvador (Dires), da Conder.
"Falta respeito à nossa origem. Eu divulgo o reggae há quase 30 anos, mantendo a ordem e o respeito ao próximo. Continuo na resistência, mas perdi um público de mais de mil pessoas por causa dessa má gestão. No dia em que derem espaço ao reggae novamente, o Pelô volta a bombar", desabafa Wilson Cravo, dono do Cravo Rastafári, hoje localizado na Rua das Flores, mas que foi um dos três bares instalados na praça. Além de cobrar maior mobilização dos amantes da cultura rasta, ele faz questão de lembrar um momento marcante de quando o local funcionava: "Um lançamento de Edy Vox e Banda Papoula, rapaz, aquilo foi uma maravilha, gente demais"!
Os órfãos da cultura reggae, tão importante para o Pelourinho, seguram a cabeça com a mão e choram.
Outro que ergue sua voz pela revitalização da Praça do Reggae é o cantor e compositor Geraldo Cristal. Natural de Cachoeira, berço do movimento na Bahia, ele considera o abandono "uma ignomínia". "Não tenho nem coragem de passar na frente", diz. E lembra que o local também serviu para eventos de reflexão, além da que a música já traz naturalmente, organizados pelo sociólogo e radialista Lino de Almeida. "Ele, inclusive, apresentou direto da praça, o seu programa Rasta Reggae, da Itaparica FM. É uma movimentação que faz muita falta", diz.
Lixo, matagal e fezes... esse é o legado da atual gestão!
Sem falar que nem só de reggae vivia a Praça do Reggae. O Cortejo Afro, por exemplo, realizou diversos ensaios no local. Subiram ao palco Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Arto Lindsay e outros. "Hoje o que a gente vê é morador de rua jogando balão lá pra dentro. Sabe o que é balão? É um saco cheio de merda. Devia cair na cabeça desses gestores incompetentes", desabafa Jorge Baratino, morador da região. No gradil, até as fotos que fingem que o Pelourinho vai bem, estão rasgadas. Nem elas disfarçam mais!
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