
Cultura
Roberto DaMatta avalia momento de 'grande irracionalismo' no Brasil
Antropólogo lança livro sobre autoritarismo brasileiro e exemplos de como o problema está enraizado no país

Foto: Metropress
O antropólogo e professor Roberto DaMatta lançou neste ano o livro "Você sabe com quem está falando?: Estudos sobre o autoritarismo brasileiro", obra composta por três ensaios que abordam aspectos complementares do autoritarismo no país. Em entrevista a Mário Kertész hoje (14), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ele destacou as diversas "autoridades" vigentes no Brasil e suas representações racistas, machistas e ignorantes.
"Nós continuamos a achar que as pessoas que falam com a gente têm obrigação de saber quem somos. Com essa obrigação na cabeça, elas teriam que nos tratar de maneira especial. Ou seja, para encurtar uma longa história, saber quem é inferior e quem é superior. Quem é superior tem um comportamento diferenciado, não pode ser feita muita pergunta e que não sigam determinadas regras que valem para todos, como o desembargador que estava sem máscara e o guarda pediu para ele usar máscara", disse o antropólogo.
Ainda segundo DaMatta, os reflexos do autoritarismo brasileiro podem ser vistos em diversas classes sociais, das mais variadas formas. Os exemplos disso ficaram ainda mais evidentes durante a pandemia de Covid-19 vivida neste ano. "Há a obrigatoriedade de usar máscara, como tem acontecido provavelmente em todas as vezes em Salvador, Niterói, São Paulo ou Curitiba, onde você tem vigilantes da prefeitura ou do estado pedindo para as pessoas não se aglomerarem, mas as pessoas não obedecem. Esse segundo surto da Covid-19 tem a ver com essa ideia de que o Covid sabe com quem está falando, então não vou pegar a Covid porque sou especial, moro em uma casa boa, tenho automóvel", afirmou.
Provocado por MK, Roberto DaMatta também citou o caso envolvendo João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, que foi espancado e morto por um segurança e um policial militar temporário em uma loja do Carrefour, em Porto Alegre. "A gente tem resolvido as coisas assim, na porrada. Infelizmente a gente tem uma classe dominante, tanto da esquerda quanto da direita, que funciona do mesmo modo. Isso não veio à consciência. A solução é falar do assunto, é tentar compreender porque essas coisas acontecem e onde estão as raízes de um Brasil que a gente esconde de nós mesmos", declarou o professor. "Acho que estamos vivendo um momento de grande irracionalismo. Não existe nenhuma sociedade no mundo onde você não pensa que as pessoas sejam saudáveis. Estamos politizando exatamente aquilo que pode nos tirar da pandemia, que é a vacina", acrescentou.
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