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Associação de História repudia ação extrajudicial de produtora conservadora contra acadêmicos

Cultura

Associação de História repudia ação extrajudicial de produtora conservadora contra acadêmicos

Seção baiana da Diretoria da Associação Nacional de História (ANPUH) publicou uma nota em solidariedade ao professor Carlos Zacarias após manifestação da produtora Brasil Paralelo

Associação de História repudia ação extrajudicial de produtora conservadora contra acadêmicos

Foto: Divulgação

Por: Geovana Oliveira no dia 23 de agosto de 2021 às 18:01

A seção baiana da Diretoria da Associação Nacional de História (ANPUH) publicou uma nota nesta segunda-feira (23) em solidariedade ao professor Carlos Zacarias, de Salvador, que recebeu uma notificação extrajudicial da produtora Brasil Paralelo, após criticar em um post os conteúdos da empresa gaúcha

Zacarias, que é professor de história da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e colaborador do Grupo Metropole, recebeu a notificação extrajudicial por uma postagem feita em julho no Facebook. Depois de ver que o caderno de apoio para o ensino de História da Secretaria de Educação da Bahia indicava um conteúdo da produtora, o professor escreveu que era necessário "rever urgentemente esse material didático". A secretaria acabou retirando a indicação do material após a postagem. 

“O historiador tem sido alvo de ataques por parte de uma produtora, que o notificou extrajudicialmente, sem nenhum fundamento, em uma tentativa de intimidação e cerceamento da crítica através de censura. O canal produz "conteúdo" de história de caráter revisionista e negacionista, o que é inadmissível para quem pesquisa e ensina História como uma ciência humana pautada na ética e na honestidade intelectual e não admite falsificações deliberadas da mesma com fins políticos e ideológicos”, diz a nota da ANPUH.

A produtora Brasil Paralelo tem ameaçado processar acadêmicos que fazem críticas à empresa ou aos seus conteúdos. Nesta sexta-feira (20), foi a vez de Zacarias, mas outros pesquisadores também receberam notificações extrajudiciais. 

A paulista Karine Rodrigues, formada em História, também recebeu uma notificação da Brasil Paralelo. O motivo foi um artigo publicado no e-book  'Nova Direita, Bolsonarismo e Fascismo: Reflexões sobre o Brasil contemporâneo'. Na época, ela desenvolvia uma pesquisa sobre a produtora para o mestrado em Ciências Políticas na Universidade Federal de São Carlos. 

Karine pesquisava a atuação da Brasil Paralelo junto a ‘think tanks’ ultraliberais e como estavam de certa forma associados. “E isso foi algo pontuado por eles na notificação, eles falam que estava os associando a nomes como Olavo de Carvalho — mas isso estava presente inclusive nos documentários”, conta. A pesquisadora mudou o tema do mestrado, por diversas razões, incluindo o assédio da produtora. 

Outros pesquisadores que publicaram artigos no livro também receberam notificações extrajudiciais, assim como a editora, que acabou publicando um direito de resposta no e-book. 

Nos documentos enviados, um pedido se repete: que não sejam associados a Olavo de Carvalho, guru de Jair Bolsonaro (sem partido), ao Instituto Mises, ou até ao governo federal. Apesar de serem assumidamente conservadores e de direita, tentam firmar a imagem da empresa como “imparcial e apartidária”.