
Cultura
Campanha do Teatro Gamboa para não fechar escancara vulnerabilidade de espaços culturais em Salvador
Com risco de fechar as portas, o teatro de 51 anos se soma a uma lista de palcos e centros culturais da capital baiana que enfrentam ameaças de encerramento

Foto: Divulgação
O Teatro Gamboa, fundado em 1974 pelo diretor Eduardo Cabus, atravessa um momento decisivo. Intimista, com a plateia próxima dos artistas e o palco com a Baía de Todos-os-Santos ao fundo, na rua Gamboa de Cima, o espaço é carinhosamente chamado por muito de Teatro Pérola. Ainda assim, essa preciosidade não foi suficiente para afastá-lo do risco de fechar as portas.
Isso porque o imóvel onde funciona foi colocado à venda pelos proprietários, os herdeiros do ator Perry Sales. Apesar do valor inicial ser de R$900 mil, eles decidiram reduzir para R$300 mil em apoio à preservação do espaço cultural, que já lançou nomes como Zizi Possi e Luedji Luna. A Associação Teatro Gamboa, responsável pela gestão há 18 anos, idealizou uma campanha no site Catarse para arrecadar R$500 mil, sendo R$300 mil destinados à compra do imóvel e o restante para manutenção.
O produtor cultural Ícaro Pithon explicou, em entrevista ao Metro1, a importância da iniciativa e a prioridade dada a eles na compra. "Se uma terceira pessoa adquire aquele imóvel, nada garante que ele siga sendo um teatro, que inclusive tem uma história de 51 anos", disse. Em sete dias de financiamento, a vaquinha reuniu cerca de R$10 mil, com apoio de 98 pessoas. As contribuições dão direito a recompensas: quem doar R$ 50 pode assistir a um espetáculo transmitido online; com R$100, recebe uma caneca e com doações de R$500 garantem acesso a um show exclusivo de Tiganá Santana.
Segundo o fundador da associação, Maurício Assunção, o Gamboa não tem fins lucrativos e todos os integrantes recebem salários semelhantes. Atualmente, o teatro é mantido por um edital estadual de R$50 mil mensais, valor que cobre quase integralmente a folha de pagamento dos cerca de dez profissionais que atuam no espaço. Por isso, a campanha de arrecadação se tornou essencial para garantir a sobrevivência do espaço cultural.
O Gamboa não está sozinho
A situação do Gamboa não é isolada. Vários equipamentos culturais de Salvador enfrentaram dificuldades nos últimos anos. O Teatro Vila Velha, por exemplo, também precisou recorrer a campanhas de financiamento coletivo em 2019, para conseguir manter as atividades do espaço considerado palco de surgimento do Tropicalismo. Os rumos mudaram, no entanto, no ano passado, quando a prefeitura anunciou a reforma e requalificação completa do espaço. Com investimento de R$12 milhões, o teatro ganhará novas passarelas, escadas, sistema elétrico e elevador.
Nem todos tiveram o mesmo enredo que o Vila Velho. Encerrou as atividades, por exemplo, o Teatro XVIII, que ficava no Pelourinho. Em 2021, foram fechados de uma vez só o Teatro Eva Herz, que funcionava dentro da Livraria Cultura do Shopping Salvador, e demolido o Teatro Acbeu, no Corredor da Vitória, para dar lugar a um empreendimento imobiliário.
A escassez de teatros e centros culturais vem atingindo diretamente desde grandes produções culturais até organizações regionais. Para tentar contornar esse cenário e ampliar o acesso à arte, algumas iniciativas como o Boca de Brasa, da prefeitura de Salvador, buscam promover apresentações culturais levando arte para apresentações artísticas a bairros periféricos.
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