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ÀTTØØXXÁ sem medo nenhum do pop em novo disco: 'LUVBOX'

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ÀTTØØXXÁ sem medo nenhum do pop em novo disco: 'LUVBOX'

O álbum, parte de uma trilogia iniciada com "BLVCK BVNG", chega em todas as plataformas digitais de streaming nesta quinta-feira (18)

ÀTTØØXXÁ sem medo nenhum do pop em novo disco: 'LUVBOX'

Foto: Rafael Ramos / Divulgação

Por: James Martins no dia 17 de outubro de 2018 às 17:10

A banda baiana ÀTTØØXXÁ reafirma, e até mesmo reforça, que não tem medo nenhum do pop (muito pelo contrário) em seu novo álbum, “LUVBOX”, que chega a todas as plataformas digitais de streaming nesta quinta-feira (18). Se com o hit “Popa da Bunda (Elas Gostam)”, o quarteto formado pelo DJ e produtor Rafa Dias, o guitarrista Wallace Chibatinha e os cantores OZ e RaoniKnalha ganhou as ruas e rádios de Salvador e do Brasil, na voz de Márcio Victor, do Psirico, agora eles têm tudo para estourar novamente e, o que é melhor, com a própria voz. 

Já na primeira faixa, “Basta Amar Você”, “LUVBOX” marca sua diferença em relação a “BLVCK BVNG” (2017), o disco anterior do grupo. Espécie de balada funk setentista, com elementos que remetem também a Ed Motta e até mesmo à dupla Claudinho & Buchecha, a música é um verdadeiro choque térmico em relação ao que a banda apresentou até aqui e, justamente por isso, a introdução perfeita ao clima, ao mood e ao modo desse trabalho que tem letras escritas por Raoni e foca em temas e tramas de amor. 

Quando, porém, na mesma canção, se impõe a levada marcante do pagodão, a gente percebe que ÀTTØØXXÁ está lá, integralmente, é aquilo mermo, e que a abertura sonora experimentada em “LUVBOX” não significa perda de identidade nem de caráter. Muito pelo contrário. O disco é o segundo de uma trilogia que será concluída com um álbum de composições de Chibatinha - ainda sem previsão de lançamento. Essa sucessão de protagonismos, aliás, lembra o projeto +2, de Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Kassin, em que cada um assumia a frente de um disco e o conceito sonoro, obviamente, cambiava com eles. 

Mas eu falei em música pop e, de fato, ÀTTØØXXÁ encara o universo pop de frente nesse novo trabalho. E o tom dessa atitude, me parece, pode trazer frutos positivos, tropicais (frutos tropicais - ou tropicalistas, se preferirem) para a próxima safra da cultura baiana. Entre as referências elencadas pelos membros do grupo surgem nomes como Michael Jackson, Justin Timberlake e as bandas de pagode Sowetto e Os Travessos. Um nome, porém, que não é citado, me veio à tona diversas vezes enquanto ouvi o álbum: Lulu Santos.

Ele pode não estar diretamente no rol das influências. Pode não estar lá fisicamente. Mas seu gesto de hitmaker vocacional e seu cuidado de ourives com esses mesmos hits guardam consonância com o intento que transparece em cada uma das 13 faixas de “LUVBOX”: desejo de soar para muitos sem ceder, para isso, à banalidade. Não ter medo de ser pop, mas também não confundir pop com bobagem. O guitarrista e produtor Arto Lindsay observa que no Brasil dos anos 1960/70/80 todo mundo ouvia a mesma música. Ou seja: não havia ainda essa segmentação voraz que enclausura sensibilidades em caixinhas, nichos, bolhas. De Dominó a Legião Urbana. Se os programadores de rádio e TV, e os algoritmos das redes ajudarem, ÀTTØØXXÁ pode ajudar a reintegração das linguagens no país que, repentinamente, se descobriu incapaz de diálogos.  

Eis o que quero dizer: canções como “Ligadin”, “Ladraum”, “É Sim, de Verdade”, “Caixa Postal” e “Protetor Solar” têm potencial para tocar com a mesma desenvoltura nas praias de Paripe e Tubarão, nas pistas do Rio Vermelho e nos intervalos das aulas chatas na Facom. E entre fãs de sertanejo universitário, reggaeton, Igor Kannário e Racionais MC’s. Um som que sai sem grilos, sem fronteiras, procurando comunicação, fazendo contato com os mais diversos contatinhos. Tudo com a qualidade das bases desenvolvidas por Rafa (à procura do contratempo perfeito) e o impressionante balanço de Chibatinha - músico incrível que é mais uma comprovação de que guitarra elétrica é invenção (e reinvenção) de baiano.

Até mesmo o que me parece um vacilo, cai bem no contexto em que se apresenta. O que eu chamaria de trans/acerto. Muito ligados à linguagem visual, em que se inclui a grafia, os meninos do ÀTTØØXXÁ chamaram atenção pelo modo como escrevem o nome da banda, dos discos e das músicas. Porém, o título desse novo álbum não guarda coerência ortográfica com o do anterior. Se em “BLVCK BVNG” os V’s são lidos como A’s, em “LUVBOX” o V é V mesmo: vê. Mas, dada a natureza da letras, seu lirismo ora derramado ora irônico, é bonito ler LUABOX em LUVBOX. A troca de sinais, quase pedindo interação, enriquece o significado do álbum e fortalece a trilogia. “Meu coração faz tum-tum / tum tum tum tum...”. Caixa de lua. Lua na caixa. LUVBOX. “A lua foi ao cinema / Passava um filme engraçado / A história de uma estrela / Que não tinha namorado”, escreveu Paulo Leminski. Bem poderia ser RaoniKanalha.

Por fim, o disco tem três participações especiais: do rapper paulistano Rincón Sapiência (em “Só Vem”), do conquistense Supremo MC (em “Desapega”) e da cantora soteropolitana Nessa (em “Eu Juro”). No pequeno palco montado para apresentar “LUVBOX” à imprensa, amigos e fãs, uma espécie de totem exibia a palavra ÀTTØØXXÁ em sentido vertical. Os dois A’s representados por triângulos/pirâmides: um de cabeça pra cima, outro de cabeça pra baixo. Em rosa. Ʌ V. Triângulos rosa - símbolos com que o nazismo marcava homossexuais aprisionados. Triângulos rosa de cabeça baixo - o mesmo símbolo ressignificado pelo movimento gay internacional. Ali observei, surpreso, que atoxa é um anagrama de “a xota”. ÀXXØØTTÁ. O triângulo como uma xota. A xota como uma pirâmide. O triângulo nas bermudas, orgulhoso e livre como a popa da bunda no shortinho. Embora formado apenas por rapazes, ÀTTØØXXÁ, no palco e no disco, em sua representação do amor expresso através de um popismo virtuoso, me pareceu encarnar o verdadeiro amor livre. Aquele, de que as mulheres sabem ser protagonistas. LUVBOX. Elas gostam…

Veja o clipe de "É Sim, de Verdade":