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Entrevista: Baby do Brasil propõe resgate da 'extravagância' musical para a juventude

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Entrevista: Baby do Brasil propõe resgate da 'extravagância' musical para a juventude

Cantora e compositora falou ao Metro1 sobre o novo show, as apresentações no carnaval de Salvador, o mercado musical e o cenário político brasileiro

Entrevista: Baby do Brasil propõe resgate da 'extravagância' musical para a juventude

Foto: Salvador Cordaro

Por: Juliana Rodrigues no dia 14 de fevereiro de 2019 às 08:10

De volta a Salvador após pouco mais de um ano, a cantora e compositora fluminense Baby do Brasil sobe ao palco do Teatro Castro Alves neste sábado (16) com a proposta de resgatar uma riqueza musical que, para ela, ficou perdida através dos anos. O show da "nova baiana", intitulado "Música Extravagante", dá continuidade aos caminhos abertos pelo espetáculo anterior, "Baby do Brasil Experience", e vem para valorizar "a harmonia, a melodia, os solos, a criatividade e a musicalidade", na definição da própria artista.

Em entrevista ao Metro1, Baby, que promete um disco novo para o segundo semestre de 2019, fala sobre o espetáculo – cujo repertório mistura o roqueiro Jimi Hendrix com o compositor erudito Maurice Ravel –, comenta o cenário político do país – tido por ela como fruto de uma lei de "causa e efeito" – e celebra a ascensão do Carnaval de rua na capital baiana e em São Paulo.

Confira:

Metro1: Você passou por Salvador em 2017 com o show "Baby do Brasil Experience" e agora vem com a nova turnê, "Música Extravagante". Quais são as novidades desse show para o público e no quê ele se parece com o anterior? O que seria essa "extravagância musical"?

Baby do Brasil: Esse novo show "Música Extravagante" tem um conceito totalmente para inovar e para trazer, também, aquilo que nos influenciou para sermos novos. O "Baby do Brasil Experience" veio após o "Baby Sucessos", com o Pedro Baby, que foi um momento único e grandioso na minha carreira, para mim e para os fãs, que era a mãe com o filho no palco, o filho da Baby do Brasil e do Pepeu Gomes, um talentosíssimo músico, respeitando os arranjos do pai, complementando... Depois desse show, eu comecei a pensar o que mais na minha carreira teria tanto sentido, porque foi um ápice no meu coração de mãe, de artista, de agradecer a Deus por aquele momento único. Então, comecei a fazer as minhas experiências e daí nasceu o "Baby do Brasil Experience", uma brincadeira ao mesmo tempo com o [grupo] The Jimi Hendrix Experience, que me influenciou muito, que o Pepeu me apresentou quando tínhamos 17 anos, mas mais pelo nome, porque realmente era uma experiência. Então peguei essa nova banda, com Frank Solari, na época, já nas guitarras, com André Gomes no baixo, nós fomos para Glasgow, no MIMO Festival, na Escócia, e ali começamos o Experience. Nos ensaios que nós tivemos, a ordem era a seguinte: "Nós vamos aprender todas as músicas, vamos tocar todas elas e nós vamos chegar no palco, respeitar um pouco a 'espinha dorsal' da música, mas nós vamos ser livres para o que vai acontecer e eu vou conduzir essa liberdade". Então, quando tocamos a bossa nova "Desafinado" (Tom Jobim/Newton Mendonça), no meio dela eu tive vontade de introduzir o "Summertime" (George Gershwin, DuBose Heyward, Ira Gershwin), e como eles já estavam esperando que qualquer coisa de criatividade poderia acontecer da minha parte, quando eu entrei, a música foi absorvida por eles e foi a mais aplaudida do show. Eu comecei a treinar uma nova banda dentro de uma nova visão de liberdade musical no palco. Na hora que eu decidi parar para começar um novo trabalho, eu comecei a pensar como eu gostaria de fazer. Aí eu vi que estava acontecendo no Brasil, há muito tempo, um problema sério, que aconteceu em nações como a França e a Itália, onde a música parou. Parou por falta de alimento, de conteúdo musical. O que ficou nesses lugares, como influência para a juventude, foi mais a música clássica, não a música moderna. Fiquei pensando que o Brasil estaria caminhando para esse mesmo lugar, um término, devido à qualidade musical que diminuiu bastante. Uma juventude que não ouviu o que eu ouvi, o que Pepeu ouviu, o que os Novos Baianos ouviram. Então, minha ideia com o "Música Extravagante" era trazer um show onde a harmonia, a melodia, os acordes fossem muito claramente valorizados, os solos, a musicalidade, esbanjando criatividade para uma juventude, para um público que gosta, que é interessado por isso.

O show abre com "Summer", um concerto de "As Quatro Estações", do [compositor erudito] Antonio Vivaldi, e nós emendamos com "Masculino e Feminino" (Pepeu Gomes, Didi Gomes e Baby do Brasil) e as pessoas começam a entender que aquele show será grandioso, no sentido musical, e ao mesmo tempo, com muito pique, dançante, curtido. Mesmo na música totalmente a cappella, é um momento de altíssima emoção, porque eu tenho esse desejo, essa mania de sempre deixar o público emocionado, gratificado, eu gosto muito disso. Também tem outras novidades, como "Conceição" (Jair Amorim e Valdemar de Abreu), grande sucesso na voz do Cauby Peixoto, que chega com um arranjo completamente diferente do que todo mundo ouviu. É engraçado que em todos os lugares que eu fiz "Conceição", eu me surpreendi como todo mundo que era jovem e que tinha mais idade cantava. Eu não sabia que ela estava assim no coração das pessoas, que os pais tinham cantado para os filhos, por exemplo, e foi uma música que eu escolhi porque meu pai cantava para mim. No show eu também contemplo dois gospels, um é "Stand By Me" (Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller), que muita gente não sabe que é gospel, aquela que o John Lennon cantava, e um sucesso do Michael W. Smith, chamado "Agnus Dei", que vendeu 25 milhões de cópias no mundo.

M1: Essa questão das releituras era até algo que eu já ia te perguntar. As músicas foram escolhidas, então, para dialogar com essa proposta da "extravagância", da riqueza musical, não é?

BB: Exatamente. Porque o que às vezes falta de elementos importantes para conectar musicalmente a mente de todo mundo, de uma juventude que ouviu músicas sem isso... Quando eu falo que eu tive o privilégio de ouvir músicas que vêm desde Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, a Jimi Hendrix, Cream, Jeff Beck, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Elza Soares, Elis Regina, lá no início, a Tropicália, as músicas clássicas... A mistura de tudo isso, quando tudo isso entra em você e você pode construir musicalmente, dentro de você, um lugar especial, esse "Música Extravagante" vem tocar nesta área, nesse ponto da reconexão entre todos esses estilos musicais para que a gente possa ter uma musicalidade completa, em uma juventude nova que está carente disso.

M1: Tem alguma participação especial prevista?

BB: Eu tenho uma participação superespecial nesse show, que é do Paulinho Boca de Cantor, que finalmente eu tenho um show para convidá-lo, era um desejo antigo meu. O Paulinho com essa voz de veludo, com sua alegria, e eu queria muito estar com ele, só nós dois no palco, em um contexto diferente [dos Novos Baianos]. Eu o convidei e ele confirmou isso. Outra participação especial no show vai ser do Quabales, que é do nosso querido amigo baiano Marivaldo Santos, que faz parte do Stomp, aquela banda internacional. Eu sou apaixonada pelo Quabales, eu o vi começar, e eles estarão fazendo uma grande participação nesse show. E talvez a gente tenha ainda mais uma novidade.

M1: O show também vai ter músicas novas, não é? Como você definiria essas músicas?

BB: Vamos ter três músicas novas. Acho que, dentro do "Música Extravagante", é importante a gente construir algo novo para as pessoas também saberem o que eu estou pensando, sobre o quê estou escrevendo, como está a minha musicalidade, como será o novo disco. É um disco de inéditas, que vai ser lançado no máximo até o segundo semestre. Uma das três músicas novas, "Eu Vou Dizer que Sim", fala de uma forma bem suave sobre o perdão. Ela vem colocando um pensamento mais filosófico e ao mesmo tempo espiritualizado, tem uma coisa meio cinematográfica, e o clipe dela vai ser um vídeo cinematográfico. Isso é uma situação que eu vivi, e vivo a cada momento, como cada um de nós, temos que escolher o sim e o não para cada coisa. A outra música é "Você é Lindo". Acho que a gente teve muito poucas músicas de mulher para homem. A gente ouve aquela (canta) "você é linda, sabe viver, você é linda sim...", a gente ouve do homem para a mulher em todo o tempo. E essa é uma música que nós, mulheres, vamos poder cantar para uma outra pessoa, principalmente para um homem, se a gente quiser. Ela é muito amorosa, muito romântica, e ela tem um pouco daquela pegada da música "Mania de Você" (Rita Lee/Roberto de Carvalho), meio latina, entre a bossa nova e o latino. É uma parceria com o Marivaldo Santos, do Stomp. É uma música que eu estou apaixonada, é uma maravilha de cantar. Acho que ela vai dar muito pé na noite de núpcias de muita gente (risos). A outra chama-se "Aquela Porrada". Na verdade eu questionava se "porrada" era uma coisa tão agressiva de se falar, se seria realmente um palavrão. Então, ela vem trazendo essa palavra "porrada", primeiro dizendo "é palavrão? Não é", mas é o quê? Uma quantidade de coisa? Uma porrada de coisa? Ou então, "fulano tomou uma porrada na cara", ou "fulano tomou uma porrada na vida"? E ela vem falando que não era necessário ter aquela porrada, era só seguir os sinais, que tudo teria sido resolvido de outra maneira. É um blues, meu parceiro nessa música é o Raphael Garrido, um dos nossos guitarristas, e é uma das músicas que eu mais sou apaixonada nesse disco.

M1: Agora há pouco você falou do Marivaldo Santos, do pessoal do Quabales, e eu aproveito para te perguntar: você tem acompanhado a cena musical baiana? Tem algum nome que você destacaria?

BB: Tenho muita vontade de saber o que está acontecendo, não consegui ainda me ater, não quero cometer nenhum engano, nenhum erro. Eu trabalhei muito no ano passado, porque minha produtora fez toda a turnê dos Novos Baianos, até o último show, e eu entrei de cabeça nas composições. Porque eu tenho essa mania, quando eu começo a fazer a imersão para me aprofundar nas letras, me entrego 100%, eu sumo geral. Começamos também os ensaios para o carnaval em Salvador e em São Paulo, os ensaios para o bloco, e eu não consegui parar para nada. Se eu der uma opinião aqui, agora, posso acabar omitindo alguém.

M1: Falando em carnaval, nessa semana saiu uma entrevista sua na qual você anunciou que cantaria na folia baiana (em 4 de março, Baby vai se apresentar na Praça Castro Alves; no dia seguinte, ela desfila em um trio no circuito Barra-Ondina), como já tem feito há alguns anos. Como você vê o novo momento do carnaval de Salvador, com essa retomada do carnaval para a pipoca?

BB: Olha, durante muitos anos eu fiquei na Praça Castro Alves até o dia amanhecer, cantando para catadores de latinha, com o maior prazer da minha vida, porque eu sempre fui adepta daquele carnaval de rua que eu aprendi com Dodô e Osmar, depois com o Tapajós, fizemos o trio dos Novos Baianos e vivemos um carnaval único, que o Brasil precisa viver de novo. Inclusive, isso é o que eu tenho comentado sempre, sobre esse carnaval de rua espetacular, de coração, onde a música que se tocava era um escândalo, quando entrava na praça o trio "Armandinho, Dodô e Osmar", era um privilégio para os nossos ouvidos. Foram eles que formaram musicalmente toda a história do carnaval da Bahia. Me sinto privilegiada e honrada por ter sido a primeira cantora de trio, por ter tido essa ousadia, essa coragem. Então, estar no carnaval todo ano é um prazer, e agora com essa retomada, de trazer de volta tudo isso, eu me sinto muito responsável por essa consciência nova que finalmente a gente tem e que eu batalhei demais ficando na praça até os últimos segundos.

M1: E neste ano você também estreia no carnaval de rua de São Paulo, que cresceu muito nos últimos anos. Como você vê essa experiência?

BB: O carnaval de São Paulo, por ter ganhado muita força, começou a integrar artistas que têm esse perfil. E eu fui convidada para ter o meu bloco. Achei muito gostoso, chama-se "Bloco da Baby", era uma ideia que eu estava tendo já há uns dois anos, de fazer também no Rio, mas não esperava que fosse começar por São Paulo. Lá tem muita gente, muitos nordestinos, muita gente do Norte, muitas pessoas que não podem sair nesse período, e estavam saindo e gastando muito dinheiro, não tinham opção. Então, a cidade de São Paulo começou a organizar um carnaval de rua com essa escola que a gente tem na Bahia.

M1: Voltando ao conceito do seu novo show, de resgate de uma musicalidade que a juventude talvez não tenha tido acesso, você falou em uma entrevista a Mônica Bergamo, da Folha, que o problema da música atual não estava no funk ou no sertanejo, e que "existem várias músicas boas" nesses estilos. Dessa safra que faz sucesso no mercado, para o grande público, há algo que te chame atenção?

BB: O que me preocupa muito, sempre, é que quando as empresas... Tanto a TV quanto o rádio, ou alguma gravadora, quando a máquina que quer faturar resolve pegar um tipo de música e fazer dela uma "febre" no meio do povo, e trazer aquela música massificante, e aquilo vai durando, vai sendo alimentado e vai matando coisas. Por exemplo, Marcos Valle é sucesso no mundo inteiro, mas ele não é ouvido como ele deveria ser, ele tem uma música dançante ("Estrelar", de Leon Ware, Marcos e Paulo Sérgio Valle) que fez sucesso em países da Europa, nos Estados Unidos. Porque houve um momento no Brasil onde essa máquina direcionou. Então o problema não é se tem um funk aqui, um sertanejo ali, como muitas pessoas falam, "ah, não aguento mais ouvir isso"... Sim, mas existem também funks maravilhosos e existem sertanejos maravilhosos. Eu amo, por exemplo, "Luar do Sertão", que é um negócio incrível. Enfim, o problema é que se a gente não fizer por nós, para dar continuidade, os pais colocando as músicas... Assim como colocaram tanto as músicas dos Novos Baianos para os seus filhos, que o primeiro show lotou, abarrotou, depois de mais de 25 anos, porque houve uma herança. Então, hoje, vamos ter que fazer mais misturas, mais fusões musicais para a gente trazer o conceito da beleza musical para toda uma juventude que está mais com o ouvido naquilo que o mercado impõe e que muitas vezes eles nem sabem que estão ouvindo aquilo porque só tem aquilo para ouvir.

M1: O país vive um momento político novo, com o avanço de pautas consideradas conservadoras e ligadas à religião, inclusive na cultura. Como você vê essa situação?

BB: Eu vou fazer uma análise entre o natural e o sobrenatural, porque só consigo enxergar assim. Acho que a gente esperava dos outros governos, olhando como público, não como partido... Tivemos muitas decepções, ficamos muito tristes, vimos muita roubalheira, vimos muita coisa, e nós sabemos que é uma lei de causa e efeito. Não adianta, a gente vai ver que pessoas vão fazer coisas, e de repente vai chegar o cajadão lá de cima, ou seja, o efeito vai acontecer. Nós estamos vivendo um efeito. O que a gente precisa agora é... Aqueles que sabem orar e acreditam, que orem muito a Deus, para que esse efeito tenha um resultado muito positivo para nós. Que esse efeito venha para consertar, e que as coisas que parecem que vão tomar caminhos desesperadores possam mudar ao longo do curso. Porque nós não teríamos como escapar dos grandes problemas que foram causados por tantos saques aos cofres públicos, às pessoas. Não tem como. É como eu digo, é causa e efeito, não falha. Agora, quanto à cultura, tudo isso, tudo virou de cabeça para baixo. Vamos agora torcer para que cada coisa volte ao seu lugar, de uma forma justa e ordenada. Eu creio que é possível, porque eu tenho visto sinais no mundo espiritual – agora eu falo como pastora – de que isso vai ser assim. Agora é um momento no Brasil em que parece que tudo vai ficar muito ruim. Mas não vai. Tudo vai tomar um curso de se organizar, porque tem que ter uma ordem para ter progresso, não é isso que está na bandeira?

Serviço

O quê: Baby do Brasil - Show "Música Extravagante"
Onde: Teatro Castro Alves - Salvador (BA)
Quando: Sábado, 16 de fevereiro, 21h
Quanto: Entre R$ 60 e R$ 180.