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João Gilberto colocou 'batucada' no violão, diz Paulo Costa Lima

Cultura

João Gilberto colocou 'batucada' no violão, diz Paulo Costa Lima

Acadêmico justifica que compositor levou o ritmo da percussão para o instrumento de corda, popularizando a canção nacional para todo o mundo

João Gilberto colocou 'batucada' no violão, diz Paulo Costa Lima

Foto: Tácio Moreira/Metropress

Por: Juliana Almirante no dia 08 de julho de 2019 às 12:19

O maestro, compositor, escritor e acadêmico Paulo Costa Lima analisou, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (8), a importância da obra do compositor João Gilberto para a música brasileira.

Ele avalia que o músico foi capaz de colocar a "batucada" dos ritmos afrobrasileiros no violão, levando a percussão para o instrumento de corda e popularizando a canção nacional para todo o mundo. 

Para explicar a técnica de João, Paulo cita a música "Bim Bom", que leva o samba, ritmo afrobrasileiro, para um tom mais intimista. 

"O Bim Bom é o João compositor. E porque não é simples? Porque tem rítmica afrobrasileira aí dentro. Tem duas alturas, com se fosse um agogô. Se acelerar isso, é o samba que vai sair. Lá em 1950, na cabeça de João Gilberto, está a ideia, primeiro, de dispensar a palavra. 'Bim bom' é 'Oba lá lá'. Ou seja, o som faz a lírica. E esse som é africanizado. Não é a toa que alguem diz: tinha que ser baiano, tinha que ter esses ritmos na cabeça", afirma.

"Todo potencial da tradição afrobrasileira que tava no samba passa para o repertorio do violão. Essa coisa aparentemente simples que hoje a gente considera como trivial, na época não existia daquela forma. (...) É com João Gilberto que o violão vai adquirir esse potencial e ser centro da orquestração que é fiel ao Brasil. Essa construção do Brasil é de forma técnica, colocando no violão essa batucada", justifica o acadêmico.

Paulo também destaca que o jeito de cantar de João Gilberto, com o atraso da voz em relação ao ritmo instrumental, cria um tipo de interpretação próprio. Para exemplificar, ele indica a versão de "Sampa" cantada por João.

"Eu indiquei o link de Sampa, da versão de João Gilberto cantando, porque pode ilustrar isso, que é muito comentado entre músicos. A capacidade dele de deslocar o ritmo das músicas e criar interpretação própria desse deslocamento", ponta. 

O acadêmico considera que a técnica acava criando um viés intimista, embora a Bossa Nova também esteja ligada ao tom de euforia da música brasileira.

"Esse espetáculo da proximidade com a voz, essa voz tao intimista. Essa construção desse Brasil instimista. Isso remete a uma porção de coisas. Por exemplo, essa técnica de fazer defesagem ritimica vai ficar clara com outros links. Mas se pensar em grandes eixos na música brasileira, da euforia, e na Bahia, da esculhambação, e do outro lado, o eixo da saudade. De certa forma, as músicas brasileiras ficam entre os dois eixos. Carnaval e batucada, na euforia. E, no eixo da saudade, tem o bolero, o samba canção. De certa forma, essas duas categorias são muito importantes para a gente. E a Bossa nova vem trazer solução. Está mais pro lado intimista e da saudade", define.