
Cultura
Escritores Ruy Castro e Heloísa Seixas trabalham em novos projetos durante a pandemia
Os autores, que são casados há 30 anos, também falaram sobre a convivência no isolamento

Foto: Metropress
O casal de escritores Ruy Castro e Heloísa Seixas falou sobre os novos projetos e a rotina de quarentena, em entrevista a Mário Kertész, hoje (17), na Rádio Metrópole. Ruy contou que, ao longo de cerca de 120 dias de isolamento, tem trabalhado na revisão da obra "Ela é Carioca: Uma Enciclopédia de Ipanema", além de retomar a escrita de um romance e preparar uma espécie de "spin-off" da obra "Metrópole à Beira-Mar", que retrata a efervescência cultural do Rio de Janeiro dos anos 1920.
"Estou relendo com profundidade todos os autores importantes dos quais tratei no livro Metrópole à Beira-Mar, muitos fora de catálogo há muitos anos, para fazer uma antologia deles, pro leitor que leu o 'Metrópole à Beira-Mar' e se interessou por aqueles autores. É pra mostrar que, além de personagens fascinantes, eles eram também grandes escritores que não mereciam estar fora de catálogo. Também estou me preparando para retomar um livro que eu comecei já duas vezes e abandonei, que preciso terminar, que é um romance. Eu não sou um romancista, só faço ocasionalmente. Mas estou trabalhando em um assunto que me interessa muito, é um romance sobre Dom Pedro II. Vai ser um livro muito baseado em coisas da vida real, com uma história sensacional, quase meio policial", disse.
Heloísa também listou os novos projetos, como o relançamento da biografia infantil da cantora Carmen Miranda, escrita em parceria com a filha, Julia Romeu. "Eu estava com um musical infantil sobre a Carmen Miranda em cartaz em São Paulo há um ano e meio, e a temporada teve que ser interrompida. E eu e a Julia Romeu relançamos, em parceria, uma biografia infantil da Carmen, uma edição linda, saiu agora na quarentena. Fizemos lives e palestras sobre isso. Antes do isolamento, eu tinha acabado de entregar um romance novo para a Companhia das Letras, e a editora tinha lido e gostado muito, já estávamos combinando o lançamento. Também estou trabalhando em uma série de programas de rádio, que vai ficar pro ano que vem".
O casal também tem se dedicado a projetos para as redes sociais. "Fizemos 50 postagens de leituras, eu e o Ruy, alternadamente, lendo trechos literários de autores brasileiros. Prosa, poesia, frases... Chamamos de 'Um espaço de delicadeza'. Teve uma repercussão fantástica, mas inventamos um novo tipo de postagens: 'Do baú do Ruy'. São fotos que postamos com os objetos do fabuloso acervo, de memorabilia, de todos os tipos que o Ruy tem, porque essa casa aqui é um museu, um centro cultural. São coleções de jornais antigos, lápis antigos, caixas de fósforos, objetos, revistas, gibis, livros antiquíssimos", explicou Heloísa.
Ruy aproveitou a deixa para falar sobre a sua relação com o passado. O escritor é autor de biografias de ícones da cultura nacional, como Carmen Miranda e Nelson Rodrigues, e de livros que narram momentos históricos do país.
"As pessoas me perguntam: 'mas você é saudosista, né?'. Não. É exatamente o que eu não sou. Não tenho saudade de nada, porque já vivo no passado. Como você pode ter saudade de uma coisa se você já vive nela? Nessa casa eu tenho tudo que você imaginar. Se você quiser jogar bola de gude aqui na minha sala, tenho um baleiro com mais de mil bolas de gude que você imaginar. (...) Vivi intensamente os anos 60 e 70, como jovem. O melhor tempo da minha vida é hoje, não é aquela época, porque tudo que veio daquela época eu trago nas costas. A vida inteira carregando aquilo e tentando entender o que era, escrevendo a respeito. (...) E pra você ver que não fico dependendo do tempo que vivi, eu gosto muito de investigar os anos 20, 30, mesmo os anos 40, mesmo tendo nascido nessa década. (...) O passado é fascinante. Você ir ao passado é como ir a um país estrangeiro", disse.
Eles relataram que só agora, em meio ao isolamento, estão "descobrindo" a vida conjugal, já que, mesmo com 30 anos de união, Heloísa e Ruy sempre moraram em casas separadas. "Quando isso começou, há quatro meses, eu confesso que fiquei muito apreensivo, porque casado há 30 anos, morando separado, dando tudo muito certo, como seria a convivência conjugal? Mas estamos indo muito bem, estamos pensando em prolongar essa vida conjugal até depois da quarentena. Eu sempre acreditei que a vida conjugal é o túmulo do amor, mas no nosso caso, até agora tá tudo bem", divertiu-se Ruy.
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