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Trânsito de Salvador piora com retorno dos colégios particulares e má educação dos pais

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Trânsito de Salvador piora com retorno dos colégios particulares e má educação dos pais

Levantamento da Transalvador, a pedido do Jornal da Metropole, aponta áreas mais prejudicadas pelas unidades de ensino

Trânsito de Salvador piora com retorno dos colégios particulares e má educação dos pais

Foto: Dimitri Argolo Cerqueira

Por: Geovana Oliveira no dia 24 de março de 2022 às 13:35

Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 24 de março de 2022

No último dia 16, a administradora de empresas Meri Silveira, de 60 anos, voltava para casa quando um caminhão de pequeno porte colidiu com seu carro. Em uma ladeira estreita, o agente de trânsito sinalizou para que ela passasse, mas o outro motorista também avançou. O que pode parecer mera falta de sorte ou distração, na verdade, tinha grandes probabilidades de acontecer. 

Aquarius, na Pituba, área conhecida pela concentração de escolas particulares. Lá se reúnem o Nossa Infância, Anchietinha, Módulo, Oficina e Gregor Mendel. Desde o retorno das aulas presenciais, após quase dois anos de ensino remoto em função da pandemia, a administradora voltou a ter um estresse diário para chegar em casa no horário de almoço. 

“É uma loucura isso aqui. Uma total falta de educação. Tem uma fila específica para [os pais dos alunos] estacionarem o carro, e quando aquela fila acaba, teoricamente você tem que estacionar em outro lugar, mas eles estacionam nas paralelas. Isso todo dia, um caos no horário de 7h30 e 12h. Demora muito para chegar em casa”, reclama. 

De acordo com levantamento da Superintendência de Trânsito de Salvador [Transalvador], a pedido do Jornal da Metropole, a Pituba é uma das regiões mais afetadas pelo engarrafamento na porta das escolas. Garcia, Brotas (Av. Dom João VI), Federação, Patamares, Paralela, Cabula, São Marcos e Fazenda Grande 2 completam a lista de bairros afetados pelo fluxo intenso em frente às unidades de ensino (veja lista completa dos locais e escolas ao lado).

na capital, se intensificou neste ano. Segundo o órgão de trânsito, com o retorno às aulas presenciais, muitos pais optaram por não contratar transporte escolar, o que agrava a situação. Se antes 15 crianças iam para a escola em uma mesma van, agora são 15 carros a mais nas ruas. 

Diante do que Meri chama de “falta de educação”, a Transalvador investe ainda na Operação Volta às Aulas, projeto para sensibilizar pais, responsáveis, estudantes e motoristas de transporte escolar sobre práticas adequadas no trânsito. 

As reclamações são quase sempre as mesmas: filas duplas ou triplas nas portas dos colégios, buzinas altas, estacionamento desorganizado. 

Os moradores que ficam próximos a escolas como Antônio Vieira (Garcia), Marista (Patamares) e Portinari (Costa Azul) afirmam que nem a atuação dos monitores de trânsito, solicitados pela Transalvador, resolve. 

“Eu moro na rua da Gurilândia [Federação] e é um inferno”, diz a estudante Ana Pinchemel, de 21 anos. “Faz uma fila enorme no horário que as criancinhas saem. Fica a Transalvador organizando, mas continua muito bagunçado. Recentemente abriu outra escola mais próxima da minha casa, que engarrafa uma ruazinha de dentro, onde eu costumava fazer a volta, e descobri da pior forma que não dá para usar. Gastei 10 minutos para conseguir fazer essa volta que eu gasto um minuto normalmente”, conta. 

Tempo Gasto

O tempo no trânsito tem se tornado uma questão complicada para os soteropolitanos. Os motoristas já se queixavam da quantidade de obras simultâneas em Salvador, onze no total, que provocam lentidão em vias importantes da capital baiana — na edição da última semana, o Jornal da Metropole abordou este tema em reportagem de capa. 

Agora, com a volta integral das aulas, a locomoção é cada vez mais demorada. De acordo com a pesquisa mais recente, divulgada durante o evento Summit Mobilidade Urbana 2019, os brasileiros gastam, em média, 1h20 para se deslocar (ida e volta) para as atividades principais do dia. Mas o tempo gasto em deslocamento pode chegar até a 2h07, o que faz uma pessoa perder cerca de 32 dias por ano apenas no trânsito.

A administradora Cláudia Munique dos Santos, 45, leva e busca os dois filhos, de 14 e 6 anos, no colégio Portinari. Gasta pouco mais de uma hora no total. Mas isso porque nem sequer pegam o trânsito na rua principal, que fica em frente à unidade de ensino. 

“Eu criei uma estratégia, porque se a gente não tomar algumas providências perdemos muito tempo. Coisa de 30 ou 40 minutos apenas parados no trânsito. A questão não é só o Portinari. Ali perto tem a Genesis, que é escola de ensino infantil, e os pais têm a necessidade de saltar do veículo para deixar a criança na escola. Então a gente deixa o veículo longe e vai andando até lá”, conta. 

No entanto, segundo Cláudia, eles acabam correndo outro risos. “A gente já teve casos no ano anterior de adolescentes que foram assaltados nessas esquinas [em que espero meus filhos]. Pais fazem o mesmo que eu de ficar na transversal. Temos exatamente nessa rua de trás um Batalhão da PM, mas isso não inibe assaltos e acaba deixando a gente inseguro”, acrescenta.

O problema é geral. A Secretaria municipal de Mobilidade afirma que essa movimentação nas escolas reduz a velocidade na via e atrapalha também o transporte público, podendo levar a atrasos. 

Um levantamento da pasta aponta que, durante o período escolar, as maiores reduções de velocidade acontecem por congestionamentos na Rua Leovigildo Filgueiras, no Garcia; na Avenida Luís Viana (Paralela), no trecho entre as estações Tamburugy e Pituaçu; e em Brotas, na Avenida Dom João VI, entre a estação de metrô e a entrada do Acupe.

O Colégio Antônio Vieira chegou a emitir comunicado para os pais reconhecendo “os contratempos gerados por essa problemática” e afirma que “tem buscado alternativas para amenizar os congestionamentos”. A escola informa que contratou duas empresas responsáveis por otimizar o trânsito na região do Garcia. 

A direção da escola Gurilândia afirma que tem observado “constante e atentamente a situação” e cita que também contratou monitores para orientar o trânsito.

Após a publicação da matéria, o Colégio Villa Global Education nega que seja o causador do congestionamento na Avenida Paralela e afirma que possui uma via interna para embarque e desembarque de alunos. Em relação à foto que ilustra a matéria, a escola diz que no dia que a imagem foi registrada, o engarrafamento estava nas vias principais e marginais da Paralela, "comprovando que a retenção não foi provocada pelo colégio". 

Procuradas pelo JM, as demais escolas citadas não se pronunciaram sobre os engarrafamentos na frente de suas unidades.
 

Matéria atualizada às 16h43