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Questão de cor: casos recentes mostram que nem famosos estão livres do racismo

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Questão de cor: casos recentes mostram que nem famosos estão livres do racismo

Em 2022, 64 casos de racismo foram registrados na Bahia, pelo Centro de Referência Nelson Mandela; número mostra uma crescente desde 2013, quando 8 casos foram reportados

Questão de cor: casos recentes mostram que nem famosos estão livres do racismo

Foto: Reprodução/TV Globo

Por: Mariana Bamberg no dia 27 de outubro de 2022 às 10:40

Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 27 de outubro de 2022

“Imundo”, “macaco”, “ladrão”. As palavras, disparadas por Elisabeth Morrone contra o humorista Eddy Jr., ainda repercutem nas redes sociais. Assim como os gritos imitando primatas durante um show do cantor Seu Jorge, em Porto Alegre, na semana passada. Os episódios com os famosos mostram que o racismo só enxerga a cor da pele. 

Eddy, por exemplo, sofreu perseguição e ameaças raciais pela vizinha e seu filho no condomínio onde mora, na zona oeste de São Paulo. Há seis meses ele saiu da periferia de Guarulhos em busca de segurança e qualidade de vida. Não encontrou nenhum dos dois na nova morada, mas se deparou com o racismo, presente em qualquer lugar. 

Para seu Seu Jorge, sua última apresentação foi literalmente um show de horrores marcado pelo racismo. Após uma apresentação em um clube gaúcho, o cantor recebeu - ao invés de aplausos - vaias, xingamentos racistas e imitações de macacos. Quem quer justificar o injustificável acredita que os ataques vieram após o artista se posicionar contra a redução da maioridade penal. Mas Seu Jorge é taxativo: "Não estamos tratando de política, estamos tratando de uma violência que não cabe mais no Brasil”, disse após a repercussão do caso.

O cantor será ouvido na condição de vítima pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul ainda nesta semana. A investigação está colhendo também depoimentos de testemunhas e funcionários. Já no caso de Eddy, a Justiça concedeu a ele uma medida protetiva e proibiu que agressora mantenha qualquer tipo de contato com vizinho, sob pena de prisão preventiva. As investigações seguem em curso. 

A verdade é que em casa ou no trabalho, anônimo ou famoso, ninguém passa despercebido pelo racismo. Para ser vítima, há apenas um critério e ele é uma questão de cor. Ser negro no Brasil incomoda. 

Eddy e Seu Jorge se juntam à vendedora Jéssica Martins e Damásio Santana, candidato a deputado federal no pleito deste ano. Ele teve a casa pichada com a frase “fique na senzala”. Já ela foi chamada de “neguinha escrava” por uma cliente na loja onde trabalha. Ambos os casos aconteceram em setembro, nos municípios de Feira de Santana e Tucano respectivamente. As investigações também seguem em curso. 

Além de Jéssica e Damásio, outros 64 casos de racismo foram registrados na Bahia  neste ano, pelo Centro de Referência Nelson Mandela, vinculado à Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado. A secretária da pasta, Fabya Reis, não tem dúvidas de que há ainda uma grande subnotificação, que tornaria os dados muito mais alarmantes. Ainda assim, o número é resultado de uma crescente desde 2013, quando apenas 8 casos foram registrados.

Fabya acredita que esse crescimento está relacionado tanto ao incentivo aos debates e à denúncia, quanto à atual conjuntura política do Brasil. “Temos como autoridade máxima do país uma figura que reforça a postura dos racistas, que já perguntou, por exemplo, quantos arrobas pesava um homem negro“, destaca Fabya, se referindo ao presidente Jair Bolsonaro (PL).