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Jornal da Metropole relembra 40 anos das Diretas Já, movimento contra ditadura no Brasil
Reconquistar a democracia brasileira custou caro - é preciso estar atento e forte
Foto: J.C.Brasil/CPDocJB
Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 2 de março de 2023
Não faz tanto tempo assim. A ditadura no Brasil parece um passado mais distante do que é, na verdade. Há 40 anos estávamos ainda asfixiados dentro dela, brigando pra sair da treva e do obscurantismo. Uma dessas batalhas foi a campanha das Diretas Já, uma onda que tomou conta de palanques, ruas, músicas e corações brasileiros, saudosos da democracia perdida em 64.
Foram anos difíceis. O país estava afundado numa longa e terrível crise. O milagre econômico e suas manobras de crescimento pouco transparentes e enormemente custosas tinha chegado ao fim e deixado uma conta cara. Os direitos trabalhistas sofreram inúmeros retrocessos, a concentração de renda era brutal, a distância entre a pobreza e a riqueza extremas se tornou ainda mais evidente.
Durante a ditadura militar no Brasil, 200 mil pessoas foram presas por motivos políticos, 500 mil submetidas a investigações. Cerca de dez mil tiveram que deixar seu país no exílio. Milhares foram torturados. Mais de 400 foram assassinados ou estão desaparecidos.
Neste cenário, no início da década de 80, surgiu a esperança de que o povo brasileiro recuperasse o direito de decidir seu destino e eleger seus representantes. Em 2 de março de 1983 um deputado estreante, Dante de Oliveira (PMDB- MT), conseguiu reunir 199 assinaturas e registrou uma proposta de emenda constitucional para convocar eleições diretas para presidente a partir do ano seguinte. A ideia acabou se tornando o início do maior movimento cívico protagonizado pelo povo brasileiro: as Diretas Já.
O primeiro ato aconteceu em junho de 83, em Goiânia. Em novembro, 15 mil se reuniram em São Paulo. Os atos seguiram em todo o Brasil. Em janeiro de 84, 300 mil pessoas se reuniram na Praça da Sé, em SP. O governador Franco Montoro e outros oito governadores do PMDB, além de Leonel Brizola, do PDT, e do presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, estavam no palanque. Consolidava-se ali a frente de partidos de oposição, sindicatos e movimentos populares pela aprovação da emenda.
À medida que a data da votação se aproximava, 25 de abril, os atos cresciam. Em 10 de abril, um milhão de pessoas se reuniram na Candelária, no Rio, e no dia 16, o Vale do Anhangabaú, em SP recebia 1 milhão e 500 mil pessoas pedindo em coro: “queremos eleger o presidente do Brasil”.
“Vai passar”, torcia Chico Buarque em sua música. Passar a ditadura, passar a emenda Dante de Oliveira.
Mas não passou.
Apesar das pesquisas apontarem 84% de apoio do povo às Diretas, o regime militar não cederia espaço tão facilmente. Nos dias que antecederam a votação da emenda, o general presidente João Baptista Figueiredo decretou estado de emergência em todo o entorno de Brasília, isolando a capital federal, evitando manifestações e intimidando o Congresso.
“Uma afronta à nação”, bradou o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães. "O governo assina seu atestado de óbito”, disse Lula. Nas vésperas da votação, o general desfilou na Esplanada dos Ministérios montado sobre um cavalo branco, com 6 mil militares e mais de 100 tanques e carros de combate. Só em 26 de abril o povo descobriu que não houve votos suficientes para a aprovação da emenda.
Mas o regime estava dividido. E se o atestado de óbito tinha mesmo sido assinado, a morte lenta da ditadura levaria quase um ano. Em janeiro de 85 o primeiro presidente civil foi eleito pelo colégio eleitoral, Tancredo Neves. O Brasil comemorou sua vitória, depois chorou sua morte.
Sarney assumiu em março de 1985 e em 1989 o povo brasileiro foi às urnas escolher um dos 22 candidatos à presidência. Lula, um dos mais ativos da campanha pelas Diretas, foi vencido por Fernando Collor de Mello. Erros vieram, a transição teve muitos dissabores. Recuperar a democracia brasileira custou caro, e vira e mexe o fantasma ainda assombra.
É preciso estar atento e forte.
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