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Um leito de lixo: Sem perspectivas de revitalização, rio Camarajipe se transforma em canal de esgoto

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Um leito de lixo: Sem perspectivas de revitalização, rio Camarajipe se transforma em canal de esgoto

Relatório técnico divulgado pelo Inema, em 2020, apontou que, das seis amostras de água coletadas de diferentes pontos do rio, cinco foram consideradas com qualidade péssima

Um leito de lixo: Sem perspectivas de revitalização, rio Camarajipe se transforma em canal de esgoto

Foto: Reprodução/Google Street View

Por: Bélit Loiane no dia 30 de novembro de 2023 às 00:00

Atualizado: no dia 30 de novembro de 2023 às 08:05

Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 30 de novembro de 2023

Lixo, mau cheiro, água com espuma e resíduos tóxicos. O que hoje parece um esgoto a céu aberto já foi fonte de renda e abastecimento para Salvador. O maior rio urbano da capital baiana, o Camarajipe, enfrenta poluição em seu trajeto de 14 km há mais de 50 anos.

A revitalização da bacia hidrográfica é uma ambição discutida entre ambientalistas, população, historiadores e prometida por políticos que flertam com a causa desde quando entendeu-se que o rio estava sendo perdido para a poluição, no início da década de 70. O desejo já resultou em propostas e projetos, mas com iniciativas pouco resolutivas. Em 2021, por exemplo, um projeto de indicação para estudar a viabilidade da recuperação do rio foi apresentado pelo vereador André Fraga (PV), aprovado na Câmara de Vereadores e encaminhado para a prefeitura. Mas, desde então, nada foi feito.

O Metro1 buscou a prefeitura para saber quais são as medidas tomadas em relação ao rio. Mas, por meio de nota da Secretaria de Comunicação, a gestão municipal informou apenas que “existe um estudo do Sistema de Microdrenagem da Bacia do Rio Camurujipe no intuito de buscar soluções para o local”.

A população precisou então se mobilizar para tentar frear a poluição do rio. Com um grupo voluntário encabeçado por Paulo Fernando de Almeida, o projeto SOS Camarajipe tenta reduzir a contaminação, através de reflorestamento e recomposição da planta que deu origem ao rio, a Camará.

“Tem diversos tipos de lançamentos clandestinos no rio desde a nascente até a foz no Costa Azul. Estamos vendo na história um rio que já teve sua glória e hoje se encontra nessa situação, parte dele tamponado, inclusive os afluentes. Temos um projeto há quase dois anos aprovado e nenhuma resposta. Ninguém está interessado no rio, só em torná-lo um veículo de esgoto”, explica Paulo.

No último relatório técnico divulgado pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), em 2020, das seis amostras de água coletadas de diferentes pontos do rio, cinco foram consideradas com qualidade péssima. Mas não é preciso um estudo para que os moradores saibam disso. Residente do Alto do Cabrito há 50 anos, próximo à nascente do rio, Zilda Fagundes conta que durante décadas viu muitos vizinhos que dependiam do rio serem obrigados a se reinventar. “Era uma área muito importante. Tinha gente que vivia da pesca aqui, mas agora tem esgoto caindo dentro da água”, conta.

Os relatos de Ana Lavigne complementam os de Zilda. Ela convive com a situação há 22 anos, na Avenida Magalhães Neto, foz do rio. Em 2021, sua revolta resultou no abaixo assinado Camarajipe Limpo. “A gente sempre vê essa lixarada toda vindo descendo o rio. Já vi aqui sofá, geladeira. É uma coisa deplorável, é o lixo de toda Salvador que acaba aqui. A coisa é longa e envolve mais estrutura e boa vontade política”, afirma.

Pesadelo da urbanização

O historiador Pablo Sousa acredita que a origem da contaminação do Camarajipe está na urbanização sem planejamento. “No início do século 20, não se visava muito a proteção dos rios, eles eram vistos como problemas. Então, muitas vezes, era negada sua existência, faziam obras desviando os cursos ou tampando esses leitos de água e isso foi trazendo esse efeito negativo”, explica.

Um rio poluído, lembra o historiador, não só prejudica o bioma, mas tira a capacidade de geração de renda e se transforma em um centro de doenças. O Metro1 procurou a Embasa - responsável pelo saneamento básico no estado - e o Inema para tratar sobre o assunto. Em nota, a estatal informou que a poluição no rio “não se trata de uma questão relacionada à rede de esgoto operada pela Embasa”. Já o instituto não se posicionou até a publicação desta reportagem.