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Sem Piedade: praça que representa luta do povo baiano resiste à descaso do poder público e da população
Depois de quatro meses, a reportagem voltou ao local e o cenário encontrado ainda era de descuido
Foto: Metropress/Filipe Luiz
Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 25 de janeiro de 2023
Símbolo da força do povo baiano, a Praça da Piedade, localizada no Centro de Salvador, continua representando resistência, mas dessa vez ao descaso imposto a espaços públicos. O local, que foi palco do enforcamento e esquartejamento dos líderes da Revolta dos Búzios, e fincou os pés nos principais livros de história do Brasil, agora mais parece um depósito completamente abandonado.
A praça, que carrega no nome um pedido de compaixão pela dor do outro, tem uma série de obras que exaltam a batalha pela liberdade, como um chafariz da Companhia do Queimado em homenagem à Independência da Bahia e bustos de quatro líderes da Revolta. Tudo isso, no entanto, está inserido em um local que agora parece sentenciado ao abandono.
Sinais de depredação, lixo espalhado por toda a extensão, urina, fezes, bancos e grades quebradas, pinturas de monumentos descascando e escuridão noturna se tornaram as principais características da praça. Um morador da região, que preferiu não ser identificado, relatou ao Metro1 que a sensação de insegurança domina a praça, que, inclusive, fica a poucos metros da Secretaria de Segurança da Bahia (SSP-BA). Segundo ele, a situação piora ao anoitecer.
“Já vi diversas pessoas serem assaltadas na praça, não há qualquer tipo de segurança. Quem precisa passar por lá, faz isso com medo. As esculturas estão se acabando com o tempo e com as barbaridades que fazem com elas”, disse.
Procurada pelo Metro1, a Guarda Municipal, responsável pela atuação na praça, afirmou que realiza rondas preventivas com equipes motorizadas, além de abrir e fechar o local todos os dias.
Em setembro do ano passado, um vídeo de uma campanha que pedia “Piedade pela Piedade” viralizou nas redes sociais e uma série de denúncias sobre o estado atual do patrimônio surgiram. Contatada pelo Metro1 logo em seguida, a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) informou que, após as denúncias, foi realizada limpeza e iniciado processo de pintura no local, com recursos da Secretaria de Turismo e a Fundação Gregório de Matos (FGM). O órgão, por sua vez, anunciou que realizou uma vistoria no monumento Chafariz da Piedade, que já está na relação de obras a serem restauradas.
Questionada sobre o motivo da degradação do espaço, a Desal informou que manutenções são realizadas na praça a cada “dois ou três” meses, mas existe um índice “altíssimo” de vandalismo no local, que não é coibido devido à falta de possibilidade de realizar rondas 24 horas.
Quatro meses depois, a reportagem voltou à Praça da Piedade e o cenário ainda é de lixo e descaso. Desta vez, a diferença é que, em meio àquele cenário de abandono, foram instaladas agora as estruturas para a realização do Carnaval. Mas nem a proximidade da maior festa popular do mundo foi motivo para maior atenção e cuidado ao espaço.
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