Marcada por fios: Emaranhados em postes da Neoenergia Coelba causam uma série de acidentes em Salvador

O trajeto do Aeroporto Internacional de Salvador até a Ladeira da Barra, com cerca de 30 km, revela uma paisagem pitoresca. A beleza da capital baiana é escondida por trás de uma poluição verticalizada, que se tornou a marca registrada das ruas, avenidas e pontos turísticos de Salvador. São emaranhados de fios, postes tortos e fiação baixa que tomam a cidade. Mas o problema não é apenas estético, já que, diante de tanta irregularidade, a população está exposta ao acaso da queda de fios e postes ou até ao incêndio nessas estruturas.

Esse olhar é compartilhado frequentemente pelos ouvintes e leitores da Metropole, que relatam ocorrências em toda cidade. Alguns mencionam poluição visual, apagões e acidentes. Outros ressaltam a necessidade de regulamentação. E há aqueles que lembram do risco de queda para motociclistas.

“Um cabo deste segurou o guidão da moto que eu pilotava e me jogou no chão. Quem passava me ajudou e eu apenas me arranhei. Mas é revoltante”, disse uma leitora. “Horrível demais! Um perigo! Já perdi a conta de fiações em diversos bairros, pegando fogo e causando transtornos à população. Quando a solução chegará?”, questionou outra.

Perigo iminente

Barris, Trobogy, Vasco da Gama, Liberdade, Cidade Baixa, Cabula, Pernambués e Avenida Sete são alguns dos bairros que já registraram problemas. Em janeiro, no bairro de São Marcos, um poste chegou a explodir. Moradores relataram que a fiação pegou fogo e, em seguida, explosões no transformador foram ouvidas. Lojas e residências nas imediações ficaram sem energia. No mês seguinte, a 8 km dali, em Pirajá, moradores enfrentaram a queda de energia devido a um incêndio no poste. Em março, outro caso emblemático. Desta vez, a 15 minutos de distância de Pirajá, no bairro do Arraial do Retiro, onde moradores precisaram pular a janela do imóvel para fugir do incêndio que começou na fiação de um poste.

Por todos os cantos

Se engana quem pensa que esses episódios só ocorrem em bairros populares. Em maio, foi a vez de uma das regiões mais movimentadas da cidade, a Avenida Tancredo Neves. Nas primeiras horas do dia, a fiação de um poste pegou fogo atingindo a parte superior da estrutura. Já na Ladeira da Barra, outra região nobre, próximo ao período do Carnaval, um homem foi ferido pela fiação. Um veículo passou e arrastou a rede, que atingiu a vítima. Ele levou 40 pontos e teve a testa, o nariz e dois dentes quebrados.

Emaranhados compartilhados

A Neoenergia Coelba compartilha suas estruturas para que operadoras de internet e telefonia instalem suas redes. Essa série de acidentes tem, na maioria das vezes, relação direta com esse excesso de fios nos postes, que deveriam seguir as regras impostas pela Anatel e ANEEL. As duas agências estabelecem que as distribuidoras de energia devem definir, em seus planos de ocupação de infraestrutura, os parâmetros técnicos a serem observados pelas operadoras, além de zelar pela adequação às normas técnicas. Dentre esses aspectos, estão as distâncias dos cabos e o número máximo de pontos a serem compartilhados em cada poste, que, em geral, são limitados a 5 ou 6, segundo o que detalhou a Aneel ao Jornal Metropole.

A Neoenergia Coelba informou que existe um plano preventivo de manutenção em todo o sistema elétrico da Bahia. “Atualmente, grande parte das ocorrências de incêndio em postes da rede elétrica está relacionada a ocupações irregulares por empresas de telefonia e internet”, justificou a concessionária. Em nota, a empresa afirmou ainda que realiza inspeções e fiscalizações para reduzir essas ocorrências. E também ressalta que a responsabilidade pela manutenção dos cabos de telefonia é das empresas de telecomunicações.

Mas, enquanto isso, a poluição visual e os perigos da fiação irregular em Salvador seguem como marca registrada da cidade e exigem uma ação conjunta e urgente.