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Marcas da história e beleza de Salvador, balaustradas se tornaram agora patrimônios tombados da cidade

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Marcas da história e beleza de Salvador, balaustradas se tornaram agora patrimônios tombados da cidade

Após anos embelezando, resistindo e fortalecendo a história de Salvador, as balaustradas foram reconhecidas e, na semana passada, tombadas pela prefeitura

Marcas da história e beleza de Salvador, balaustradas se tornaram agora patrimônios tombados da cidade

Foto: Secom/Betto Jr.

Por: Duda Matos no dia 06 de junho de 2024 às 00:00

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 6 de junho de 2024

De origem italiana, o balaúste (ou seu conjunto, balaustradas) é uma pequena coluna utilizada para sustentar um corrimão ou um peitoril. O nome, para os mais jovens, pode até parecer estranho ou distante, mas a estrutura está sempre ali presente nas imagens guardadas das memórias que se tem de Salvador. Afinal, quem não consegue fechar os olhos e ver as balaustradas enfeitando a orla da Barra?

Mas, além de enfeitar, elas reforçam a história da capital baiana, hoje tomada por grandes e modernos prédios espelhados. As balaustradas fazem parte (e são uma das principais estruturas representantes) do momento em que a cidade era inserida em processo de embelezamento arquitetônico com padrões europeus, na primeira metade do século 20. A Avenida Sete de Setembro, por exemplo, no período se tornou uma grande vitrine para o que havia de mais moderno e bonito, vindo da Europa para a Bahia.

O historiados Jaime Nascimento conta que neste período, na Barra, o costume de ir à praia ainda era recente. “Então as balaustradas faziam parte dessa atmosfera de tranquilidade e de beleza. Se não fosse tomar banho, você se debruçava sobre elas para observar o mar [...] era sempre no sentido de dar um charme a mais àquele lugar, seja uma praça ou beira de praia, na colina do Bonfim, praça Castro Alves. Elas sempre dão charme a mais”, pontuou.

Após anos embelezando, resistindo e fortalecendo a história de Salvador, as balaustradas foram reconhecidas. Na semana passada, a prefeitura assinou o decreto de tombamento das estruturas pela primeira vez na história. A ação protege os monumentos de qualquer intervenção, com exceção de obras de restauração. No total, 13 estruturas, espalhadas em oito bairros, foram contempladas pela medida de preservação. São elas as da Barra; Rio Vermelho; Centro; Campo Grande; Centro Histórico; Barroquinha; Barris e Bonfim.

Apesar de reconhecer a importância dessa valorização, Nascimento pontua que esse tombamento deveria ter vindo após uma programação de recuperação das balaustradas, que existem também em outras partes da cidade, além da orla. “O primeiro passo deveria ter sido recuperar e depois dizer olha existem as que mais são visualizadas na cidade”, questionou.

Marcas da cidade

O professor e historiador Rafael Dantas acredita que este é um processo importante para a ideia de pertencimento e de identidade da capital baiana. Afinal, “a gente tomba, preserva, aquilo que é significativo para nós, aquilo que toca nas ideias de pertencimento, de identidade, que fala sobre a cidade e seus processos de mudanças e transformações ao longo tempo. A gente tomba elementos que ajudam a explicar o que nós somos enquanto pessoas na cidade. Então, a preservação das balaustradas, é uma ação importantíssima para compreendermos o que foi a cidade e o que a cidade se tornou hoje, especialmente nos bairros onde estão contempladas”.

A proposta de tombamento surgiu no Conselho de Patrimônio da Fundação Gregório de Matos (FGM), que está atuando em projetos de preservação dos patrimônios da cidade, o Salvador Cidade Patrimônio. Nos últimos cinco meses, cerca de R$ 1 milhão já foram investidos. O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, também destaca a importância de preservar as marcas de Salvador.

“No momento que a gente começa a perder isso, essa cidade vira uma cidade como outra qualquer, e Salvador é considerado um dos maiores berços patrimoniais do mundo. Então é fundamental que a gente tenha essa preocupação para manter essa identidade, essas particularidades, que de uma certa forma conta uma história”, afirmou.