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Sonho sob prescrição: Melatonina se espalha como solução milagrosa para insônia de crianças

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Sonho sob prescrição: Melatonina se espalha como solução milagrosa para insônia de crianças

Com formatos fofos e gominhas saborizadas, melatonina tenta chegar a crianças e adolescentes

Sonho sob prescrição: Melatonina se espalha como solução milagrosa para insônia de crianças

Foto: Reprodução/Canva

Por: Duda Matos no dia 01 de maio de 2025 às 07:22

Atualizado: no dia 01 de maio de 2025 às 09:45

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 1º de maio de 2025

Sejam em formato de comprimido, ursinhos, coração e bala de goma, os suplementos e medicamentos contendo melatonina, para supostamente ‘combater a insônia’, invadiram as redes sociais e o mercado brasileiro. Os modelos fofos, divertidos e saborizados, não se engane, revelam uma tentativa silenciosa (e vitoriosa, diga-se de passagem) para chegar a crianças e adolescentes, muitas vezes sem prescrição médica.

Não é liberou geral
Se por um lado, as redes, junto com dinâmicas acadêmicas exaustivas e rotinas hiperconectadas, contribuem para o desajuste no sono de crianças e adolescentes, por outro, elas também são usadas para vender a solução milagrosa. Só que, apesar dessa busca crescente por indutores de sono, a venda de melatonina em suplementos alimentares no Brasil só foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2021. E, ainda assim, exclusivamente para pessoas com idade de 19 anos ou mais e consumo diário máximo de 0,21 mg. Ou seja, a melatonina é proibida para crianças e adolescentes. 

Disfarçadas de gominhas inofensivas
E não é para menos. A melatonina é produzida naturalmente pelo corpo humano, mas, nos Estados Unidos, lota prateleiras e gôndolas de farmácia com rótulos de como “Soninho Perfeito” ou “Sweet Dreams”. Lá, um a cada cinco adolescentes usa a substância regularmente, segundo a revista científica JAMA Pediatrics. Se não houvesse essa limitação da Anvisa, a tendência no Brasil, país recordista em automedicação, provavelmente seguiria o caminho norte-americano.

Resposta para tudo
Em 2023, a Anvisa chegou a ordenar a retirada do “Soninho Perfeito Melatonina Kids”, da Mr. Oemed, das prateleiras de farmácia, após a empresa veicular propagandas na internet garantindo terapias para problemas com sono, ansiedade, compulsão alimentar, irritabilidade noturna, inflamação e até câncer. Para o médico do sono Francisco Hora, essa febre da melatonina reflete justamente a farmacologização generalizada. No popular: o uso de medicamentos para tudo, como se fosse a solução para qualquer problema.

“Não é assim que a banda toca. Você tem que tratar as causas dos problemas. E a causa do desajuste no sono não está na falta de melatonina, seu corpo está apto a produzi-la se você deixar. Agora, se você não deixa, está olhando o celular, se não tem um momento de reflexão”, fica mais difícil”, alerta Francisco Hora.

Mais uma pilantragem médica
Essa venda e publicidade indiscriminada nas redes sociais de medicamentos proibidos para determinado público não é novidade nas redes. Francisco Hora é taxativo: “faz parte da pilantragem em que a prática médica tem se tornado”. No caso da melatonina, os influenciadores usam as redes para vender uma substância produzida pelo nosso próprio corpo, alegando solucionar um problema criado, entre outros motivos, pelo próprio excesso das redes. 

Exército do sono
E não são apenas as gominhas de melatonina. A venda de remédios para dormir cresceram, com destaque para o Zolpidem, remédio controlado, que provoca rápida indução ao sono e causa dependência. Já são atrelados a ele a relatos de amnésia, esquecimento, delírio e paranoia, mas o termo Zolpidem acumula mais de 177 milhões de visualizações no TikTok. E no próximo ano, uma nova classe de remédios para dormir, Dora, deve chegar ao Brasil. Parece que contar carneirinhos ficou mesmo no passado.