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Produtos vendidos como ultra- proteicos se espalham como atalho para performance e bem-estar
Só entre os famosos whey protein, a Anvisa recolheu e suspendeu a comercialização de 17 representantes desse produto desde setembro do ano passado
Foto: Reprodução/Freepik
Materia publicada originalmente no Jornal Metropole em 18 de setembro de 2025
Proteína virou a queridinha do momento. Mas “não a da carne ou do ovo”. Para ser queridinha mesmo ela tem que estar embalada e, muitas vezes, ultra pro- cessada. Uma dose 15g já é suficiente para modificar a prateleira de qualquer produto, inflar os preços e possibilitar um marketing que promete substituir refeições e ajudar no crescimento dos músculos. “Performance” e “saúde” em uma coisa só (entre aspas, e até duplas).
Saúde de canudinho
Barrinha, tapioca, sopa, paçoca, shake e até mesmo cerveja “super proteica” nas prateleiras dos supermercados. A onda está indo tão longe que, nos últimos dias, uma rede de fast food lançou um milk shake proteico, o conceito da campanha vai no alvo: “até nossos shakes ficaram bomba- dos”. E a receita é muito simples: adiciona- -se, por R$ 2, uma dose de 20g whey protein aos sabores tradicionais e tcharan: “performance e saúde” de canudinho.
Pelo menos, é essa a impressão que querem causar, mas a verdade é que o componente principal continua sendo o açúcar. E para quem pensa que só rede de fast food está aproveitando a febre, teve até influencer compartilhando a rotina com uma dieta de 20 ovos por dia e, me- ses depois, lançando sua própria linha de whey protein.
De ultra, só ultraprocessado
O consumo desses produtos vem impulsionado pela crença de que a suplementação é essencial para o desempenho físico e talvez até a única solução rápida. Como bônus, vem ainda a praticidade. Mas não é necessariamente assim. O Instituto de Defesa do Consumidor, por exemplo, fez um estudo com 60 marcas e apontou que alimentos que antes eram minimamente processados tornaram-se ultraprocessados apenas para atender à tendência de fortificação proteica, que, no geral, é feita com proteínas (como whey protein) que não garantem os mesmos benefícios de fontes naturais.
A nutricionista Rosangela Passos, professora titular da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia, reitera esse alerta: “Muitas pessoas realmente acreditam que, para ter bons resultados na academia, eles devem consumir os alimentos proteicos. Mas, na verdade, esses alimentos são produtos alimentícios pro- cessados e muitas vezes até ultraprocessados, que contêm uma quantidade maior de aditivos, conservantes e flavorizantes. E, portanto, o hábito alimentar da pessoa não estaria sendo considerado saudável”. Ou seja, o discurso de “performance e saúde embalados” não é tão irrefutável assim.
Tudo, menos o que promete
O chamado mercado wellness (ou indústria do bem-estar) vem crescendo ano após ano surfando nesse discurso. No Brasil, já atingiu US$ 96 bilhões, e o destaque vai para os segmentos de cuidados pessoais e alimentação saudável. Ironicamente menos de 25% da população adulta brasileira consome frutas e hortaliças como recomendado pela Organização Mundial da Saúde, segundo estudo da UFMG.
Em muitos casos, esses superproteicos são importante e até indicado por médicos. Mas o discurso de “saúde embalada” vai por água abaixo quando encontra o exagero, o uso sem indicação e a tendência de substituir refeições por lanches prontos, a chamada “snackficação”, que está associada ao aumento de doenças como obesidade, diabetes e hipertensão. A endocrinologista Maria Creusa Rolim elenca algumas das complicações que o excesso de proteína pode trazer para a saúde. “Pode sobrecarregar rins, fígado e causar ainda osteoporose. Existe realmente uma ‘mágica’ rondando as proteínas, as proteínas não são a base de nossa pirâmide alimentar. O que acontece é que a proteína deixa você mais saciado. Mas isso não é o equilíbrio: equilíbrio não é sobrecarregar em um nem outro”, alerta.
Só entre os famosos whey protein, a Anvisa recolheu e suspendeu a comercialização de 17 representantes desse produto desde setembro do ano passado. Os motivos vão de falsificação à detecção de constituintes não autorizados e informações falsas na embalagem.
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