Às vésperas da eleição, governador e prefeito surpreendem ao unir forças pelo interesse público

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 21 de outubro de 2025

Nem só de crítica e dedo na ferida vive o jornalismo. Felizmente, de vez em quando conseguimos dar boas notícias. Na política baiana, enquanto a corrida eleitoral de 2026 já está em curso, o clima entre o governador do Estado e o prefeito da capital tem sido de cordialidade e acordos firmados. Tudo começou no final de agosto, quando Jerônimo Rodrigues (PT) e Bruno Reis (União) se encontraram no Centro de Operações e Inteligência (COI), no Centro Administrativo da Bahia (CAB), para discutir ações conjuntas em temas como segurança pública, saúde, educação e desenvolvimento social. Foi o primeiro encontro formal entre os dois desde a posse de Jerônimo, em 2023.

O resultado da reunião de agosto, entre outras contribuições mútuas, foi a adesão do Estado ao Plano Municipal de Segurança Pública e Defesa Social, lançado na quinta-feira (6) com a presença dos dois chefes do executivo. No evento, chamou atenção um gesto de cortesia. É praxe, nas solenidades desse tipo, que a maior autoridade presente – no caso, o governador – seja o último a discursar. Mas Jerônimo não hesita em sair do protocolo quando a causa é justa e, mesmo sob protesto de Bruno, insistiu para que o prefeito encerrasse a reunião.

Aproximados pelo caos

O único momento em que essa união estado-município tinha acontecido foi logo no início da pandemia, quando o então prefeito ACM Neto (União Brasil) e o então governador Rui Costa (PT) aliaram esforços para definir protocolos e ações coordenadas para o combate ao coronavírus. O resultado dessa parceria foi Salvador no posto de uma das referências nacionais contra a covid.

Juntos na avenida

Depois do Plano Municipal de Segurança Pública, veio outra parceria com a assinatura do Protocolo de Intenções para o Carnaval de Salvador, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego, oficializado na sexta-feira (14). Mais um encontro, novos gestos de cordialidade e um discurso alinhado em torno da união de esforços para garantir condições de trabalho dignas aos cordeiros, catadores, ambulantes e demais profissionais da cadeia produtiva do Carnaval de Salvador. O acordo tem vigência de cinco anos e amplia a participação do governo do Estado na festa.

Em entrevista à Metropole, o governador chegou a mencionar que quer fazer mais pelo Carnaval, festa cujos louros costumam recair sobre a prefeitura. Citou ainda que, se o prefeito concordar, os dois devem cobrar da patrocinadora do evento: "dona Ambev, qual a sua contribuição para que aqueles aqueles trabalhadores tenham dignidade?”.

Essa união vem a despeito de uma disputa nacional pelo controle da narrativa sobre Segurança Pública, usada como instrumento eleitoral. A Bahia vai na contramão do restante do país, ensinando ao Brasil que é possível colocar o interesse público em primeiro lugar. Todo mundo ganha.

Oremos para Nossa Senhora das Eleições para que esse clima respeitoso se mantenha até outubro do ano que vem, pelo menos aqui em Salvador. A nível nacional, basta olhar o Congresso, o buraco é mais embaixo.