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Esquema de desvios no SUS em Salvador usava até lavanderia para lavar dinheiro repassado ao INTS

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Por Jairo Costa Júnior

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Esquema de desvios no SUS em Salvador usava até lavanderia para lavar dinheiro repassado ao INTS

Operação Dia Zero descobre indícios contra empresas do ramo em nome de servidor sob a mira da PF e da CGU; loja de moda infantil no Itaigara também entrou no radar dos investigadores

Esquema de desvios no SUS em Salvador usava até lavanderia para lavar dinheiro repassado ao INTS

Foto: Divulgação/CGU

Por: Jairo Costa Jr. no dia 08 de julho de 2025 às 17:19

Atualizado: no dia 08 de julho de 2025 às 18:24

O grupo de empresários e executivos que desviaram ao menos R$ 100 milhões do SUS em Salvador entre 2013 e 2019, investigado pela Operação Dia Zero, utilizou até lavanderias para lavar dinheiro proveniente de contratos firmados com o Instituto Nacional de Tecnologia em Saúde (INTS), apontado como epicentro do esquema de corrupção desmontado pela Polícia Federal (PF) no último dia 12, quando foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão na capital, Mata de São João, Itapetinga e Maceió, em Alagoas. É o que aponta o relatório da PF que deu base à ofensiva da Justiça Federal da Bahia contra dirigentes do INTS acusados de integrar a suposta organização criminosa, ao qual a Metropolítica teve acesso.

Piada pronta
Nas investigações da PF, duas empresas do tipo aparecem na lista de pessoas jurídicas ligadas a Ariovaldo Nonato Borges Júnior, servidor de carreira da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e suspeito de manipular documentos de uma licitação vencida pelo INTS, vazar informações privilegiadas a dirigentes do instituto e manipular dados para a renovação do contrato com a entidade, classificada como Organização Social (OS). Trata-se da Soft Lavanderias e da MD Lavanderia, que têm Ariovaldo Júnior como único sócio, segundo informações obtidas junto ao cadastro da Receita Federal.

Roupa suja
Aberta em 2016 como franquia da rede americana Dry Clean e instalada no Shopping Bela Vista, a Soft foi apontada pela PF como provável destinatária de repasses do INTS operados por outras empresas do esquema. Em especial, a Jet Informática, registrada em nome de dois laranjas, mas pertencente de fato ao servidor da SMS. A lavanderia foi incluída na lista de empresas que tiveram bens bloqueados por ordem da Justiça. 

Fio da suspeita
Outro indício que reforça a ligação da Soft com os desvios de recursos destinados à rede de saúde pública do município é que, antes de Ariovaldo Júnior, ela pertenceu ao diretor de contratos do instituto, Fabio Finamori, outro alvo da Dia Zero. Já a MS Lavanderia, franquia do grupo argentino Laundromat situada em uma galeria comercial da Avenida Dom João VI, em Brotas, também entrou na mira da operação por suspeita de participar da lavagem de dinheiro. Coincidência ou não, a empresa foi criada em 2013, ano em que o INTS ganhou o contrato com a SMS.

Tem menino não!
Além de lavanderias, o esquema utilizou ainda uma empresa de moda infantil abrigada no Empório Itaigara, a Bambino & Cia, para desviar verbas públicas. A empresa, da qual Ariovaldo Júnior é o único dono, foi fundada em março de 2015 e também teve os bens bloqueados a pedido da PF.

Carta marcada 
Tido como um dos principais defensores da liberação da jogatina no país e do projeto de lei que autoriza o funcionamento de cassinos e bingos, legaliza o jogo do bicho e permite apostas em cavalos de corrida, o senador Ângelo Coronel (PSD-BA) incluiu uma emenda à proposta que abre brechas para formação de um monopólio no setor. O dispositivo apresentado por Coronel impõe o limite de um cassino em cada estado e no Distrito Federal, à exceção de São Paulo, que poderá ter três, e Minas Gerais, Rio de Janeiro, Amazonas e Pará, contemplado com dois cada, desde que instalados em complexos de lazer, caso dos resorts, ou em embarcações exclusivamente destinadas a esse fim. 

Mais do mesmo
Do jeito com o qual foi concebida, a emenda do senador baiano, segundo avaliação de especialistas em investigar a indústria clandestina dos jogos de azar, vai ao encontro dos anseios de chefões de organizações criminosas que já controlam o negócio na imensa maioria dos estados. Em síntese, os grandes bicheiros, a mesma turma que explorava bingos antes da proibição, em dezembro de 2002, e hoje comandam máquinas de caça-níqueis e cassinos clandestinos, fora casas de apostas online. A expectativa é de que o Senado vote o projeto de lei nesta terça-feira (08), mas até a publicação da coluna a matéria ainda não havia sido analisada pelo plenário da Casa. 

Concorrência desleal
Cardeais da base aliada ao governador Jerônimo Rodrigues (PT), sobretudo parlamentares, estão cada vez mais preocupados com o número de novos ocupantes de cargos no alto escalão do Palácio de Ondina com candidatura a deputado federal ou estadual já posicionados previamente no páreo. Lista da qual fazem parte os secretários de Agricultura, Pablo Barroso (Avante); de Infraestrutura Hídrica e Saneamento, Larissa Moraes (MDB); do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Augusto Vasconcelos (PCdoB); e de Educação, Rowenna Brito (PT), além do presidente da Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb), Jayme Vieira Lima (MDB), primo dos dois maiores caciques emedebistas no estado, os irmãos Lúcio e Geddel Vieira Lima.

Além da conta
"O que tem causado grande desconforto na base é que são quadros que controlam orçamentos expressivos e coordenam programas sociais de forte apelo no eleitorado. Isso desequilibra o tabuleiro para parlamentares que estão no exercício do mandato e temem perder a reeleição para a Câmara ou para a Assembleia Legislativa. Sem falar que já existem deputados licenciados ou ex-deputados que chefiam hoje pastas importantes e vão concorrer novamente", afirmou um influente líder do arco governista, em referência aos secretários de Infraestrutura, Sergio Brito (PSD); de Desenvolvimento Econômico; Angelo Almeida (PSB); e de Desenvolvimento Rural, Osni cardoso (PT).

Clima de paz e amor
Antes aborrecidos com o que classificavam como tratamento desatento dispensado pelo ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), lideranças do interior baiano que fazem parte do bloco oposicionista garantem que a postura mudou bastante nas últimas semanas. Agora, informaram à coluna, Neto abriu a agenda para receber pessoalmente aliados políticos e deixou de ignorar contatos por telefone ou pelo WhatsApp.