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Sábado, 23 de março de 2024

Brasil

Presidente da OAB-Ilhéus denuncia truculência e racismo durante abordagem policial

"Seja bem-vindo à abordagem da Polícia Militar da Bahia", disseram os policiais a Jacson Cupertino

Presidente da OAB-Ilhéus denuncia truculência e racismo durante abordagem policial

Foto: Divulgação

Por: Geovana Oliveira no dia 24 de março de 2022 às 16:26

"Seja bem-vindo à abordagem da Polícia Militar da Bahia", ouviu o advogado Jacson Cupertino, presidente da OAB em Ilhéus, na última sexta-feira (18), após passar por uma abordagem agressiva. 

Cupertino, junto ao advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Ilhéus, Reinaldo Weber, voltava de uma cerimônia de posse da OAB em Itapetinga quando foi parado por policiais nas proximidades de Itapé, no sul da Bahia. De repente, os dois homens, negros, tinham quatro fuzis apontados para o carro e eram orientados, aos gritos, a sair do veículo com as mãos para cima. 

"Eu sugeri que meu documento estava no bolso, e ele [o policial] disse que eu não deveria falar nada. Me chamaram de folgado e que estava falando demais, sempre apontando fuzis. Eu perguntava 'o que aconteceu', e eles brigavam. A abordagem no colega [Reinaldo], que é negro retinto, estava bem truculenta, bem forte, e ele disse que não era para eu olhar. A todo momento eu dizia que estava errado esse tipo de abordagem", conta Cupertino ao Metro1. 

Filho de delegado e irmão de policiais, o presidente da OAB-Ilhéus sabia como agir em abordagens, mas ficou assustado com tamanha truculência. "Abriram muito a perna de Reinaldo, bastante, a minha não abriram tanto, mas puxavam minha mão para trás para empurrar nas costas e se eu reclamava diziam 'cala a boca'", relata. 

Segundo Cupertino, um dos policiais, o responsável por sua guarda, aparentava estar nervoso, e vestia uma farda mais nova que os demais. Com isso, preferiu se calar. "Ele podia ser um policial novo, resolvi ficar sem falar para não acontecer nenhuma tragédia". 

Em nenhum momento, relata o advogado, os policias militares solicitaram os documentos. A todo momento gritavam e davam ordens, mesmo com a cooperação dos dois. "Eu não consigo entender", repete Cupertino diversas vezes durante a ligação. 

Os policiais só começaram a se acalmar após o advogado Reinaldo dizer que era amigo de determinado tenente. 

"Reinaldo falou que eu era presidente da OAB de Ilhéus e que era amigo de um tenente. O sargento apontou o fuzil para mim como se fosse o dedo e perguntou meu nome. [Quando eu disse], perguntou se sou parente do delegado. Eu disse que sou filho. Ele falou que, então, eu sabia como era abordagem. Eu discordei", diz. 

Foi assim que os policiais deram as boas vindas à abordagem militar. Novamente o advogado negou. "Eu discordo, porque não procede essa informação sua. Aí mandaram irmos embora. Não pediram documentos em momento algum", conta. 

Os advogados registraram a denúncia na última terça-feira (22). Na quarta, a OAB-BA emitiu nota de solidariedade aos colegas. 

"O fato, ocorrido poucos dias antes do Dia Internacional contra a Discriminação Racial (21 de março), refletiu mais uma cena lamentável que materializa o racismo estrutural, fazendo das pessoas negras alvos prioritários das ações policiais, violando seus direitos e cidadania", diz nota. 

Cupertino afirma que entende a cultura da violência em que os policiais estão inseridos, mas espera que seu caso sirva de forma pedagógica. "Eu queria muito apenas que eles tivessem a consciência de que o mundo não precisa disso, de que eles precisam amar mais. Ser civilizados, porque eu não sou contra ser abordado em momento algum, acho que a policia faz seu trabalho, mas a abordagem precisa ser civilizada e respeitosa na medida do possível. Não teve nada que justificasse aquela rispidez", desabafa o advogado. 

A OAB-BA diz que as medidas necessárias já estão sendo tomadas. Questionada pelo Metro1, a Polícia Militar afirma que o comando da Companhia Independente de Polícia Rodoviária (CIPRv) Itabuna abriu uma sindicância para apurar o caso.