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Vladimir Herzog: 50 anos do assassinato que abalou a ditadura

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Vladimir Herzog: 50 anos do assassinato que abalou a ditadura

Jornalista judeu de origem croata e naturalizado brasileiro, então diretor da TV Cultura foi morto por agentes da repressão nos porões do DOI-Codi em São Paulo; regime fez encenação para que parecesse suicídio

Vladimir Herzog: 50 anos do assassinato que abalou a ditadura

Foto: Reprodução

Por: Metro1 no dia 24 de outubro de 2025 às 10:22

Há exatos 50 anos, ou seja, no dia 24 de outubro de 1975, também uma sexta-feira como esta, o então diretor do departamento de jornalismo da TV Cultura, o jornalista Vladimir Herzog, foi convocado por agentes da ditadura militar a depor sobre supostas relações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), mais conhecido como "Partidão, tido como inimigo do regime dos generais. 

Vlado, como era mais conhecido, não tinha relação com o partido. Logo, apresentou-se de forma voluntária na sede do temido DOI-Codi em São Paulo, localizado no bairro de Vila Mariana. À tarde daquele mesmo dia, Herzog estava morto. O episódio desencadeou uma onda de repúdio e deflagrou a série de desgastes que resultaram, uma década depois, no fim da ditadura. 

O regime, à época sob comando do general-presidente Ernesto Geisel, fez de tudo para tratar o caso como assassinato, atribuindo a uma mentira dos rivais dos militares. A alegação era de que Vlado Herzorg tinha cometido suicídio. A esposa dele, Clarice, jamais acreditou na versão. A foto, descobriu-se depois, foi pura encenação feita com o do corpo do jornalista, no qual ele aparecia com um cinto no pescoço, joelhos dobrados e os pés tocando o chão. 

A imagem tornou-se símbolo dos Anos de Chumbo da didatura, feita sob tortura, execuções e desaparecimentos. A repercussão da morte de Herzog acabou ultrapassando as fronteiras da militância política. O jornalista era uma figura pública, tinha carisma e influência, além de ser visto como um profissional pacífico e chefe de família – casado e pai de dois filhos pequenos. 

Quem foi Vlado?

Para muitos historiadores, o assassinato foi uma das mais benéficas sementes para o movimento a favor do retorno da democracia no Brasil. Mas quem era Vlado Herzorg? Nascido em 27 de junho de 1937 em Osijek - então Iugoslávia, hoje Croácia -, Herzorg se mudou com a família para o Brasil aos 9 anos, em 1946. Naturalizou-se brasileiro anos depois. 

Filho de um casal de judeus, emigrou durante a Segunda Guerra Mundial para escapar da perseguição nazista na Europa. Em São Paulo, formou-se em Filosofia na USP e construiu sólida carreira jornalística. Trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo e na BBC antes de assumir o cargo de diretor na TV Cultura. Embora judeu, nunca foi religioso.

Depois de décadas de luta, em março de 2013 a família Herzog recebeu uma nova versão do atestado de óbito substituindo sua causa mortis. Desde então, oficialmente, Vlado Herzog morreu em consequência de "lesões e maus tratos". A ditadura inventou que o jornalista tinha cometido suicídio, farsa que seria desmascarada, a começar pela recusa em enterrá-lo em um local à parte, como manda a tradição judaica em relação aos suicidas.

Um dos elementos que reforça a tese do antissemitismo como fator a ser considerado na morte de Herzog é a postura do comandante do DOI-Codi em 1975, o então tenente-coronel Audir Maciel, revelada em uma entrevista anos depois. "Hoje, ninguém sabe que ele era um jornalista como outro qualquer. Associou-se a sua pessoa uma figura de grande renome. Prêmio Vladimir Herzog —para um judeu, apátrida, que nem brasileiro era", disse Maciel ao projeto "História Oral do Exército", num volume publicado em 2003.