Política
Wilson Gomes analisa eleição: ‘PT não soube reconhecer o antipetismo’
Além disso, Gomes aponta que o ambiente digital foi subestimado. Com isso, Bolsonaro “surfou” sozinho a onda do Whatsapp
Foto: Reprodução / Youtube
Professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Wilson Gomes analisou a eleição deste ano. Em entrevista a Mário Kertész, na Rádio Metrópole, Gomes afirmou que o PT “não soube reconhecer o antipetismo”. Além disso, quando percebeu o movimento, a legenda não soube dar a proporção real do sentimento contrário à legenda.
“O PT não reconheceu o antipetismo. O PT tem uma vertente populista que impede que reconheça que o povo não goste dele. Quando começa a admitir que havia antipetismo, subestimaram. Lula tinha certeza que levava a eleição no primeiro turno”, lembrou.
Para o docente, as sucessivas vitórias do partido acumularam descontentamentos em parte da população. “Acho que um sentimento que aparece quase formando um movimento social não pode ter uma causa só. Então você tem aí desde os acertos do PT, que geraram antipatia. O êxito de quatro eleições produz um conjunto de interesses não atendido, alternância de poder... Por outro lado, isso não basta para explicar. O PT foi um partido com péssimo hábitos republicanos. Então, quando teve a segunda eleição de Lula, o mensalão era julgado. Na última eleição de Dilma já tinha o ‘petrolão’. O PT gerou escândalos para todos os lados, adotou a tática de proteger o ninho, a culpa era sempre de algum setor, a mídia, elite, capital internacional... sempre alguma coisa fora”, apontou.
Com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), Wilson Gomes acredita que o sentimento antipetista está sem rumo. “O ‘anti’ é um sentimento contra algo, uma vez que a catarse é realizada, é difícil imaginar que isso é liga para uma agenda, um projeto construtivo. O segundo ganhador [da eleição] é o ‘Bolsonarismo’, que é uma posição ultraconservadora de direita”.
Outro motivador do triunfo do capitão da reserva, para o professor, foi a aprovação do empresariado com o deputado a partir do “posto Ipiranga”. “O puxadinho de Bolsonaro que acabou dando certo, acabou fazendo com que ele fosse eleito pela elite econômica. Isso foi o empurrão necessário para que a classe alta, ou os empresários, pudessem apoiar Bolsonaro. Temos esse tríplice pacote”.
Além disso, Gomes aponta que o ambiente digital foi subestimado. Com isso, Bolsonaro “surfou” sozinho a onda do Whatsapp. “Não redes sociais, são interpessoais. Os celulares não se desligam mais nunca, estamos constantemente conectados. Essas mídias digitais têm uma vantagem: ela não são públicas, são privadas, particular. Tendem a ficar abaixo do radar da Justiça Eleitoral. O Bolsonaro montou uma rede espetacular de grupos de Whatsapp com um alcance que nem a TV tinha”.
Prova da eficiência da rede “ignorada” foi a subversão do movimento #EleNão. “O #EleNão foi desconstruído. No Whatsapp, pegaram três fotos de mulheres nuas e em posições que os conservadores não gostam e destruíram. Já havia outro #EleNão correndo em vídeos e mobilizaram rapidamente a rede ultraconservadora”.
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