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'Não tinha intervalo para dormir', lembra Haroldo Lima sobre tortura na ditadura

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'Não tinha intervalo para dormir', lembra Haroldo Lima sobre tortura na ditadura

Ex-deputado federal também relatou, em entrevista à Rádio Metrópole, sua participação no movimento estudantil baiano

'Não tinha intervalo para dormir', lembra Haroldo Lima sobre tortura na ditadura

Foto: Alexandre Galvão/ Metropress

Por: Juliana Almirante no dia 15 de outubro de 2019 às 12:41

O engenheiro, ex-deputado federal e ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima (PCdoB), relatou, em entrevista à Rádio Metrópole, como foi o período em que foi preso e torturado durante a ditadura militar. 

"Passei, na tortura, 11 dias e 11 noites. Quando falo isso, é porque não tinha intervalo para dormir. Você ficava numa cadeira, que era chamada de cadeira do dragão, algemado na cadeira, seja de dia e de noite, ia sendo torturado", recorda o ex-parlamentar, que foi preso junto com colegas do partido em operação do Exército do Rio de Janeiro e levado para São Paulo. 

Depois da tortura, ele foi encaminhado para uma cela solitária, onde ficou por semanas.  "Você ficava nu em um cubículo, com um vaso sanitário. Maior luxo que tinha era ter vaso e tinha colchão sem espuma. Tinha greta por baixo por onde achava comida. Tinha solitárias do lado. Às vezes, o ar ficava meio viciado e a gente botava o nariz naquele buraquinho para respirar o ar melhor", lembra ele, que depois passou anos detido em presídio, tanto em São Paulo quanto em Salvador, para onde foi transferido.

Haroldo conta que a sua entrada na política e no PCdoB se deu com sua participação no movimento estudantil baiano. Quando iniciou os estudos na Escola Politécnica da Ufba, em 1959, ele foi chamado para participar da  Juventude Universitária Católica (JUC). 

Naquele momento, ele relata que começa a ter uma fervescência no Brasil em função das reformas de base do ex-presidente Jango. No entanto, o grupo estudantil a que ele pertencia passou a não querer mais estar ligado à Igreja Católica e decidiu criar o movimento chamado Ação Popular.

"Aí resolvemos, no carnaval de 1963,  aqui em Salvador, na atual escola de veterinária da ufba, em Ondina, foi feito o congresso de fundação da ação popular, a AP. A AP foi formada ali, e passou a ter, surpreendentemente, um papel importantíssimo naquela conjuntura. Jango aceitou uma indicação nossa do ministro da educação, Paulo de Tácio. Era um negócio impressionante", lembrou.

Ele lembra que, naquele momento histórico, que precedeu a ditadura militar brasileira, o movimento estudantil tinha uma grande força, que não é mais vista atualmente. 

"Tínhamos controle total do movimento estudantil. Não digo total, é força de expressão, mas tinha força preponderante no movimento estudantil. (...) Hoje (o movimento estudantil) não tem força. Naquela época, quando a UNE falava, era uma força enorme", avalia.