
Política
Lilia Moritz Schwarcz critica 'apatia' da sociedade civil brasileira: 'Pode nos custar muito'
Segundo ela, desde a nomeação de Roberto Alvim para a Funarte, o caso mais gritante do governo foi o surgimento de Sérgio Machado na Fundação Palmares

Foto: Walter Craveiro/FLIP
A historiadora e escritora Lilia Moritz Schwarcz comentou as recentes nomeações no governo de Jair Bolsonaro para as áreas da Cultura. Ela falou da nomeação do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Machado, autoproclamado "negro de direita" contra o ativismo dos negros. Segundo ela, desde a nomeação de Roberto Alvim para a Funarte, este é o caso mais gritante do governo. "Na democracia, temos que conviver com a diferença. Mas o problema é que ele faz declarações do tipo que tem 'nojo' do ativismo, que os africanos 'se beneficiaram muito com a escravidão', que ele é contrário às 'ações ações afirmativas'. É a pessoa no lugar errado. Parece uma provocação", conta, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (3).
Ainda segundo Moritz Schwarcz, o país está aprisionado ao discurso radical. "Não se trata de conservadorismo. Não vejo problema nisso, acho até positivo para a temperatura da nossa democracia. O nosso problema são os radicais da direita que não admitem debate. São pessoas que seguem a mesma cartilha num Brasil que conquistou, nos últimos 30 anos, desde a constituição cidadã, tantos direitos de gênero e das questões afro-brasileiras. O Brasil ficou muito mais plural", diz a escritora.
Questionada por Mário Kertész sobre a falta de uma movimentação da sociedade civil para combater essas ações destrutivas, a historiadora afirmou que esta "apatia" pode custar caro aos brasileiros. "Lembro que tivemos um período que nossos direitos foram usurpados, no período militar que a ditadura instaurou, do papel que os artistas tiveram. Atores, escritores e que a Academia teve, intelectuais. Estou achando que a sociedade civil brasileira está muito calada. Isso causa, de fato, perplexidade. São políticos que não estão nos oferecendo utopia e sim distopia. Estamos todos assistindo. Acho que o espaço das ruas, que sempre foi espaço de manifestação e contestação, pode ser democrático. Mas agora é silencioso e isso preocupa muito", diz.
"As pessoas podem dizer que são a favor ou contra da Folha, não falo disso e sim do gesto de um presidente que atua como se o Palácio do Planalto fosse uma casa própria. Essa apatia pode nos custar muito. Governos autoritários, fascistas e populistas, como estamos convivendo, começaram dessa maneira, a conta-gotas, até que, quando a população acordou, o Estado estava completamente tomado", finalizou.
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